A arte, essa estranha arte

Em que pesem – e muito – os comentários nem sempre elegantes sobre as mais recentes exposições nos museus e galerias de arte no Brasil, e por mais estranho que pareça, vejo um lado positivo. Não sou Pollyana, mas estou aprendendo a medir os fatos da vida em algum ponto entre o oito e o oitenta.

A discussão infindável nas redes, com argumentos até grosseiros de um lado, e outros tentando explicar, que digamos, é inexplicável, mostrou a que veio a arte. Arte é reflexão e não enfeite de parede combinando com móveis e tapetes.

Acho que pessoas que jamais se interessaram por arte, são as que mais postam comentários exacerbados, condenando as performances, quadros e idéias de anos e até séculos atrás. Podem não gostar, não entender,condenar – isso é um direito – mas não precisa ofender.

E o interessante são os argumentos, dos dois lados, de quem acusa e de quem defende, palavras duras, levadas para o lado pessoal, criando até inimizades e ligando os defensores ao esquerdismo. Ainda não encontrei esse ponto de encontro.

E penso que, apesar de algumas exposições terem se encerrado em função da pressão dos internautas e deputados que propõem tortura, o sentimento e as ideias do artista eternizadas na tela atingiram camadas que, por mais indignados que estejam, não podem deixar de refletir, lá no âmago: que negócio estranho é esse?

Parece que ninguém nunca viu ou ouviu falar nas esculturas que enfeitam praças e obeliscos pelo mundo afora, os registros de figuras nas cavernas e abrigos pré-históricos. Elas estão nos livros, nas páginas de história e não me lembro de ver questionada a liberdade de criá-las a não ser nos regimes fascistas, o que é melhor esquecer.

Estamos discutindo arte, conversando, o que é quase inédito num país que pouco preserva sua história e vivia em silêncio antes do espaço aberto pelas redes sociais. A conversa foi parar nos programas de televisão, no face, no Twitter, no Whats,  virou pauta, e isso me parece bom, pois nos dá a oportunidade de ouvir, comparar, concordar, discordar, aceitar, ou repelir.  Apesar do clima muitas vezes desconfortável, estamos falando de arte, essa desconhecida por muitos, e que agora, ainda que de forma estranha, começa a fazer parte de nosso olhar.

E assim, vamos conhecendo melhor o mundo como ele é – cheio de diversidades, opiniões, sentimentos – e não como gostaríamos que fosse, um mundinho particular, só nosso, cultivado entre as paredes de casa.

1 comentário

    • Érica em 13 de outubro de 2017 às 12:05

    Sensacional, Matilde! Simples assim. Kama Sutra tem imagens lindas, artistas renascentistas pintaram cenas íntimas históricas. Na casa de Pietro Maria Bardi, uma parede imensa, inteira, foi dedicada a obras eróticas. A expressão é livre, como deve ser livre a opção de aprecia-las ou não! Arte não é decoração, é termômetro de seu tempo, como disse Francisco Amêndola!

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