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‘Orgulho e Esperança’: delícia de filme!

Sabe aqueles filmes que te deixam super leve, feliz e enternecida? Chamo de epifanias, por considerar pequenos milagres de alegria no meio de nossa vida corrida e estressante.

Pride” é a história de como um pequeno grupo de gays e lésbicas de Londres decidiu apoiar a fatídica greve dos mineiros, ocorrida no Reino Unido em 1984.

O grupo “Gays e Lésbicas apoiam os mineiros” decidiu começar a arrecadar recursos para ajudar os grevistas de uma vila do País de Gales a se manterem durante a paralisação.

Como todos os apoiadores do movimento eram recebidos na sede do sindicato da cidade apoiada, lá foram os oito amigos em um furgão conhecer os mineiros broncos e preconceituosos em seu habitat.

Claro que eles são recebidos, na primeira vez, com muitas reservas e até hostilidades. Mas, aos poucos, com sua alegria, tolerância e humanidade, o grupo vai conquistando até os mais machões.

Todos tornam-se heróis no vilarejo. A recíproca, tempos depois, foi linda, de fazer chorar mesmo.

No meio da história maior, o caso específico do jovem Joe (“Bromley” para os novos amigos), que está se descobrindo como gay e ainda se esconde da família. O filme também mostra como ele encontra o próprio caminho da aceitação.

Tudo emocionante. Quero assistir de novo sempre que minha fé na humanidade estiver em um nível precário.

Senhoras e senhores, JARED LETO!

Por ter ouvido muitos conhecidos dizerem que não conheciam Jared Leto, resolvi fazer um breve resumo de sua carreira, que acompanho há anos, desde que sua beleza me chamou a atenção na série adolescente “My So Called Life“ (cancelada por baixa audiência logo após a primeira temporada, em 1995). Foi o primeiro trabalho na TV tanto dele quanto de Claire Danes (também sigo a carreira dela desde então), que hoje faz o maior sucesso em “Homeland”.

A série foi um fracasso (não por falta de qualidade em minha opinião), mas ainda bem que Jared e Claire deram continuidade às suas carreiras – ele arriscando-se mais em papéis difíceis ou pouco carismáticos, como se quisesse provar que tem mais do que beleza (difícil esquecer isso… rs).

Aliás, desviar de papéis fáceis e comerciais é uma das razões de o ator ser pouco conhecido do grande público. Exemplos disso são seus personagens em filmes como o depressivo “Réquiem para um Sonho” ou o hermético “Além da Linha Vermelha“. Também foi o vilão de “O Quarto do Pânico“, o amante do imperador em “Alexandre” e o Babyface de “Clube da Luta” (ele tentando parecer feio com cabelos e sobrancelhas descoloridos… rs).

A segunda razão é que Jared conjuga sua carreira de ator com a de vocalista de uma banda de rock de sucesso, a Thirty Second To Mars, que se apresentou no Brasil no último Lollapalloza – foi eleito campeão de simpatia entre a imprensa brasileira.

Fico feliz que finalmente suas opções nada fáceis de personagens estejam sendo reconhecidas com seu Oscar por “Clube de Compras Dallas”.

Foi merecido!

‘Indomável Sonhadora’: miséria e poesia

 

Indomável Sonhadora” (Beasts of the Southern Wild) não é um filme fácil de assistir.

Esqueça aquela cenografia plástica e perfeita do cinema. O diretor Benh Zeitlin mostra sem filtros, de uma forma naturalista, a pobreza em que vivem moradores de barracos às margens do rio Mississipi, numa localidade que os personagens chamam Bathtub.

Ali, próximos a uma barragem, a pequenina Hushpuppy, de cerca de 5 anos, costuma navegar com seu pai a bordo da carcaça de uma velha camionete transformada em barco, refletindo sobre o “povo do outro lado”.

É um cenário de miséria o que Hushpuppy habita com a maior naturalidade e resignação, como se não houvesse outro possível – ou sequer desejável.

Seu mundo só sofre um abalo quando ela estranha a ausência do pai por um dia inteiro. Quando ele reaparece, envolto em um camisolão de hospital e com uma pulseira de identificação no braço, começa a desconfiar que algo em seu mundo está sob ameaça.

Não demora para que monstros (as bestas do título original) de uma história, contada pela professora que dá aulas à beira do rio, passem a povoar suas divagações, como uma metáfora do seu medo do que está por vir.

E vem muita coisa… tempestade, inundação, destruição e a união dos vizinhos sobreviventes em um “acampamento” improvisado numa palafita.

Toda a realidade é processada pelo olhar ingênuo de Hushpuppy e traduzida por sua narrativa em off, de uma sabedoria pura e ingênua…

A cena do enfrentamento de seu maior medo é pura poesia visual. Tiro o chapéu para Ben Zeitlin por conseguir conjugar imagens de miséria, narrativa poética e metáforas visuais.

‘Em Um Mundo Melhor’: os efeitos da raiva

Pense no que pode haver em comum entre uma invernal e limpa cidade dinamarquesa e uma solar e empoeirada vila africana.

No dinamarquês “Em Um Mundo Melhor” – vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2011 – há mais de um ponto a ligá-los: o primeiro, o médico Anton, em missão humanitária no Quênia, mas sediado com a família na Dinamarca; o segundo e mais gritante, a violência – ora desencadeada pela raiva, ora desencadeadora dela.

A raiva move as ações do garoto Christian, que acaba de chegar com o pai de Londres, onde perdeu a mãe para o câncer. Na escola, logo faz amizade com Elias, filho de Anton, que só é deixado em paz pelo valentão de plantão após o novo colega providenciar um “corretivo” à altura para o bullyer.

Pacifista, Anton recusa-se a revidar agressões que um outro pai lhe faz na frente das crianças. Tenta convencer os filhos – sem muito sucesso – de que o grosseirão é um “idiota” e que violência não se deve reproduzir.

A mesma incompreensão cerca o médico quando ele trata o “chefão” da vila queniana, que pratica toda sorte de violência contra a população – inclusive estuprar e esfaquear meninas, que o médico esforça-se para salvar em improvisadas cirurgias de emergência.

Tanto a temperança de Anton quanto a raiva de Christian serão testadas no devido tempo, confrontando-os com questões como: “até onde ir por vingança? Até que ponto resistir a ela?”.

Cada um em um cenário faz sua própria escolha, cujas consequências lhes cobram um alto preço da consciência. Mas mesmo a culpa carrega seu teor de ensinamento – ao menos neste filme de Susanne Bier.

Como ‘Peggy Sue’

“Peggy Sue – Seu Passado a Espera” (Peggy Sue Got Married, 1986), de Francis Ford Coppola, foi um de meus primeiros cultos cinematográficos. Seu roteiro foi o primeiro que vi utilizar como argumento – copiado à exaustão muitos filmes depois – a volta da protagonista (Kathleen Turner – foto acima) a seu passado, com a memória de todo um futuro vivido e com o poder de reeditá-lo. Até então acreditava que eu e todos os adultos do mundo considerariam dar um braço ou perna por tal oportunidade.

Ainda tenho todos os meus membros no lugar, mas de uma forma torta, poética, mas não menos real, ganhei de presente minha própria oportunidade de reeditar 27 anos passados em minha cidade natal, após 14 de outros “sonhos felizes de cidades” – e nem precisei entrar em coma como Peggy Sue.

Foi acordada que confrontei, recentemente, as esquinas que me assistiram carregar dilemas adolescentes e duras lidas de início de carreira. Atrás delas reencontrei antigos e valiosos afetos, personagens caras não apenas por terem passado por minha vida, mas por terem me escolhido e aceito junto com toda a parafernália emocional confusa que vinha junto com minha amizade.

De uma dessas pessoas especiais ouvi, ao reencontrar: “Acho que amizade é isso, né? Parece que não passou tanto tempo… que te vi ontem”.

Descobri assim que gratidão é um sentimento tão bom de sentir quanto o amor e fiz as pazes com este passado que acreditei ruim por tantos anos. Cheguei à mesma conclusão de Peggy Sue: o passado não precisa ser reeditado e a vida segue exatamente o rumo que escolhemos – não há melhor!