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O Aniversário da Princesa Kele

Não era um aniversário comum. Era o primeiro que eu passaria longe de minha família, amigos e do meu parceiro de vida. Desta vez, eu estaria na Itália, em uma viagem que, quando decidi fazer, não sabia o que e quem iria encontrar pelo caminho. Pesava deixar o conforto dos abraços das pessoas que eu mais amava.

O desenho do convite para meu aniversário foi arte da Sheila. Era bem divertido e tinha até coroa. Anunciava que a festa seria em um Castelo. Convidei várias pessoas do Brasil e durante a semana planejamos como seria a festa, repassando as pompas que um bom banquete merece.  Talvez usássemos a festa como artifício para esquecer o peso da mochila e aliviar o calor que o sol ardente provocava em nosso corpo, nos deixando “em bicas”.

Enquanto as peregrinas se preocupavam em decidir o que poderia ser meu presente, viajávamos dentro da viagem. “Que tal esse tênis branco, de brilho e peninhas, Kele?”, indagava a Sheila olhando a vitrine. A Regiane já tinha resolvido o seu, com minha concordância, e carregava há dias um presente pesado e ansiado: uma sombrinha.

Eu estava empolgada com a comemoração!

Investimos boas horas no planejamento de como fazer a festa na cidade que ainda não conhecíamos… quilômetros discutindo como organizar no Castelo de Orio Litta minha festa de aniversário. Foi uma alegria quando descobrimos que a cidade tinha, sim, um castelo!

Na manhã de 3 de julho de 2017, fui acordada com o “parabéns” animado das amigas que passaram a ser minha família, minhas parceiras e companheiras de aventura.

Deparamo-nos com um problema: se repetíamos nossos figurinos dia sim, dia não, como diferenciar nas fotos o grande dia do evento no castelo? A ideia que deu super certo foi colocarmos flores no cabelo, traduzindo para as fotos a importância da data. Ficou tão bom que até saímos no magazine da Francígena com o look.

 

A florzinha do campo enfeitou a princesa Kele

 

Sheila, princesa Kele e Renata acha minha de cima; Márcia, Adriana e Regiane na de baixo.

Ganhei flores e ainda pela manhã veio outro mimo: as peregrinas se revezavam por trechos carregando minha mochila, para que eu desfrutasse melhor o meu dia de princesa.

O trecho que percorreríamos era de Santa Cristina a Orio Litta, uma comuna italiana com menos de 2 mil habitantes. A maioria das cidades por onde passamos e nas quais nos hospedamos eram pequenas, e essa não seria diferente se não trouxesse a grande expectativa de ter sido escolhida como o local da comemoração.

A essa altura eu já estava carregada de histórias e lembranças das pessoas que passaram por mim e deixaram um tanto delas comigo. Como esquecer do presente dos donos de um mercado justamente naquele dia? Biscoitos champagne, xícaras de café quente, água… em troca disso, pediram que rezássemos por eles quando terminássemos o caminho… Comemos tudo com a fome dos simples, sentadas na calçada, sob um sol límpido.

Nenhuma outra pessoa passou por nós naquele trajeto. Éramos só nós seis, e nossa alegria enchia o caminho.

Já nos aproximávamos da cidade quando uma bicicleta veio em nossa direção. O ciclista, esbelto e simpático, logo nos mostrou o celular com a foto de nossas duas amigas, Adriana e Renata, que apressadamente lideravam e abriam nosso caminho e já tinham cruzado com ele. Apresentou-se como Luigi, nosso anfitrião, e não hesitou em tirar uma foto com nós quatro e entregar uma grande chave: “a cidade é de vocês”.

Achei exagero, mas como presente não se recusa, recebemos de bom grado uma chave do Castelo.

Realmente, fazia vista o deslumbre da construção que se ergueu diante de nossos olhos! A surpresa foi maior, no entanto, ao percebermos que era o local onde nos hospedaríamos! Da torre do castelo nos acenava a Renata, com ares medievais.

Na torre do castelo, a Renata, enquanto a princesa Kele (ao centro, de preto) sorri…

Nosso hospedeiro, Luigi, ao saber que era meu aniversário e para demonstrar sua fidalguia, apressou-se em me presentear com um bom vinho italiano e, sem cerimônias, aceitou participar de nossa grandiosa festa logo mais.

Quando caiu o sol – que também se atreveu a dar espetáculo ao se pôr, impecável -, a Marcinha encarregou-se da decoração com flores colhidas, e a Regiane, que tantas vezes me tratava como filha, conferiu se havia taças para todos, separando para mim a mais requintada delas.

Sheila cuidou do cardápio, abrilhantou-o. Foi a primeira vez que comi seu famoso risoto de peras com gorgonzola.

A Adriana protestou – queria cerveja e não vinho – mas não demorou muito a se render à harmonização dos brindes e sorrisos dispendidos naquele encontro. Ah, ela foi a DJ: Legião Urbana na festa da princesa.

Apesar do convite ter rodado muitos grupos de WhatsApp e muitos amigos brasileiros terem sido convidados, compreendi as ausências justificadas pelos inúmeros quilômetros que nos distanciavam. Responderam-me com carinhosos parabéns, “mas desta vez não vai dar, Kele”, ou “não tenho como viajar agora, Kele”, ou ainda, “quando for em um Castelo mais pertinho eu juro que vou, amiga”. Não faltaram mensagens, vídeos, “parabéns” dos que faltaram.

O Luigi acabou sendo, então, o único participante externo da festa de aniversário no Castelo… e também o mais ilustre. Era o equivalente ao prefeito da cidade! Além disso, era também um exímio ciclista e professor de uma escola infantil. Com tanto ecletismo, não faltaram assuntos no jantar, que se estendeu por deliciosas horas, graças ao inglês impecável e elogiado da Renata.

Um resumo das convidadas e dos presentes da princesa

Os presentes não eram muitos nem pesados (uma condição!), mas valiosos, incríveis! Os cremes, os colares e a sombrinha – ah, a sombrinha! – foram úteis e fizeram os dias seguintes serem mais coloridos e perfumados.

Naquele aniversário eu não me senti mais velha. Talvez tenha experimentado um sentimento nômade e um transbordar de vida que independe de idade.

A certeza que tenho é que aquele dia foi vivido intensamente e aqueles presentes e presenças encantaram, temperaram e transbordaram minha alma.

A minha gratidão às minhas amigas ainda ecoa em mim, por terem feito de um dia, uma história. É esta a história que agora divido com vocês, exatamente um ano depois.

 

Galeria de fotos
(clique em qualquer uma para ampliar)

Kele Morais  funcionária pública, peregrina e… princesa

 

 

Esta é a quinta crônica da série Pé Dá Letra, publicada aqui no Palavreira toda quarta-feira, com histórias inspiradas na peregrinação de sete brasileiras pela Via Francígena, em 2017. Para ver as fotos do trecho de Santa Cristina a Orio Litta, que inspirou esta história, visite o Peregrinas Mundo Afora no Facebook.

Para ler a crônica anterior, “O Uivo do Monstro”, clique aqui

O Noivo ‘Bafudo’ **

FERNANDO BRAGA **

Domingo, meados dos anos 1960, Carlos ia almoçar pela primeira vez na casa de Carmem Lúcia. Pensava em casamento.

Desceu a Duque de Caxias e, ao chegar na Luiz da Cunha, parou na cancela do trem. Era a única ligação do Centro da Cidade com a Vila Tibério.

“Maldita porteira, tinha que fechar bem agora!”, lamentou.

Uma locomotiva a vapor, conhecida como Maria-Fumaça, fazia manobras pelo pátio da Estação da Mogiana. As “porteiras” interrompiam a passagem de veículos e pedestres. Os mais apressados corriam pelo túnel malcheiroso que passava por baixo da linha férrea. A maioria aguardava o fim das manobras.

Carlos, impaciente dentro do seu “Gordini”, pensava que poderiam não gostar do seu atraso. Mas, na verdade, o que o incomodava mesmo, era o fato de ele ser torcedor do Comercial, e ser “bafudo” era considerado um crime pelo pai de Carmem Lúcia. Ela aceitava a preferência do seu amado, mas pedia para Carlos guardar segredo.

“É melhor não falar em futebol”, dizia ela.

“Aqui nesta casa não tem ‘bafudo’…”

“Seu” Pedro tinha orgulho de dizer que naquela casa só entravam produtos da Antarctica, fabricados na Vila Tibério, e que ele, embora filho de ferroviário da Mogiana, sempre trabalhara na cervejaria. Orgulho maior era dizer que toda a família era composta de botafoguenses.

“Graças a Deus não tem nenhum ‘bafudo’ aqui”, dizia, atrás de um bigodinho bem aparado.

Carlos passou pelos bares da Luiz da Cunha, todos lotados, e virou na Conselheiro Dantas. Passou em frente ao Grupo Escolar Dona Sinhá Junqueira, ao lado da Igreja Nossa Senhora do Rosário e virou na Santos Dumont, na esquina do Bar do Paciência.

Enfrentando o sogrão

Parou em frente à casa com um pequeno alpendre e desceu, enxugando o suor, provocado pelo forte calor e pela ansiedade.

Carlos foi recebido por Carmem Lúcia e seu irmão, um jovem com seus 16 anos. Entraram e “seu” Pedro foi logo oferecendo um copo de cerveja. A mãe, dona Lurdes, veio cumprimentar o rapaz e voltou logo para a cozinha, acabar o almoço.

“Seu” Pedro foi logo inquirindo sobre o que fazia e qual time torcia. Carlos contou que trabalhava como vencedor em uma loja e que não ligava pra futebol.

“O quê? Não gosta de futebol, pois hoje tem Come-Fogo e você vai comigo ver o que é um time de verdade”, afirmou.

Carlos não teve outra alternativa. Depois de uma farta macarronada com frango e muita cerveja, foi com o “sogrão” e o “cunhadinho” para o Estádio Luiz Pereira, a alguns quarteirões dali.

No Come-Fogo

O Botafogo ganhou por 5 a 2, com gol de Laerte, dois de Antoninho e dois de Geo. Era um tal de abraços e pulos que não acabava mais. Carlos quase se traiu no gol de Carlos Cézar.

Depois do jogo, “seu” Pedro falou que a comemoração de verdade iria acontecer no Bar Botafogo, do Chanaan Pedro Alem. Lá, centenas de pessoas, todas com cerveja na mão, gritavam eufóricas. Um caixão de defunto apareceu dos fundos das canchas de bocha e imediatamente “seu” Pedro pegou uma das alças e colocou as mãos do “genro” em outra. Virou uma verdadeira procissão com a multidão acompanhando o caixão e cantando: “Dia 13 de Maio, na Vila Tibério, o Bafo apanhou de cinco a zero; Ave, Ave, Ave Maria…”.

Carlos, segurando uma das alças daquele fatídico caixão pensou: “O que a gente não faz por amor!”.

 

História fictícia baseada em acontecimentos verdadeiros, como a passagem
da porteira, o Come-Fogo e o enterro, que ainda menino, presenciei

 

** Fernando Braga é jornalista e proprietário orgulhoso do Jornal da Vila, da Vila Tibério, um dos bairros mais antigos e tradicionais de Ribeirão Preto


 

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Só não peçam entusiasmo… (*)

JOSÉ EDUARDO GOMES DE CARVALHO **

Consta que não há clima de Copa nas ruas do Brasil. É um dos poucos pontos em que coincidem tanto a minúscula mídia que presta quanto a gigantesca mídia que não presta. Me fio mais nas pessoas que circulam por São Paulo muito mais do que circulei por toda a vida e que são testemunhas de que há mesmo uma indiferença enorme de P. a P. e de J.A. a J.A., de Pirituba ao Pari, do Jardim América ao Jardim Ângela. No Rio, então, nem sinal de Neymar e companhia, muito populares no Twitter e no Instagram, mas sem praticamente empatia com a vida real. No Brasil inteiro, nada de vendas em massa de telas planas, nada de camisas amarelas bombando, quase nada de calçadas e paredes pintadas.

Alguém se surpreende? Só protozoários e amebas.

Quando a manada começou a agir para transformar as instituições brasileiras em um depósito de dejetos há pouco mais de quatro anos, quem tinha um pingo de consciência social – infelizes que somos – já vislumbrava uma falta de perspectiva que destruía toda a capacidade de alimentar alguma esperança. Só não sabíamos que aqueles movimentos claros de deterioração eram só uma sensação térmica de fundo do poço: o fundo do poço de verdade não chega nunca.

Vamos fazer nosso papel de sujeito médio, com um mínimo de capacidade de reflexão e que é apaixonado por futebol. Essa pessoa acorda todo dia, se é que conseguiu dormir, e tenta projetar como serão suas próximas horas. Nesse trabalho insano de tentar manter o equilíbrio no cotidiano, busca uma saída diante do que tem visto: “Farsantes, golpistas, facínoras com poder, perseguição ideológica, a sociedade em decomposição…. Já deu, né?” Mas não deu, parece que nunca dá, porque a manada descobre sempre um jeito de piorar. Que lugar tem hoje a euforia provocada pelo futebol nosso de cada dia nesse contexto?

Mais para ‘Mad Max’
Mesmo o sujeito que raramente reflete, e que sequer cogita que é possível viver em comunidade de forma civilizada, está levando bordoada de todo lado. Esse tipo faz parte dos milhões de estúpidos que foram para as ruas pedir a destituição/prisão/linchamento de gente inocente e que, agora, não podem se eximir da crua verdade: são os  diretamente responsáveis pelo buraco em que o país foi jogado pelas criaturas que eles produziram. Esses que agora dizem “não era bem isso que eu queria” também estão longe de entrar na vibe de uma Copa do Mundo. Neste momento, aliás, estão mais para Mad Max do que para Shangri-La, nem conseguem imaginar como vai ser o amanhã, se vai ter água, se o ônibus vai circular ou se o carro vai sair da garagem, quanto mais sonhar com o mês que vem.

Não digo que o futebol, com sua capacidade aglutinadora e poder de acender paixões, não opere milagres. Pode até ser que, por alguns instantes, a Copa faça o papel de anestésico para uma sociedade doente, fraturada e transtornada, um amontoado de gente que é réu e ao mesmo tempo vítima da avacalhação geral em que se transformou a nação. Mas que ninguém se engane: o momento hoje nada tem a ver com a Copa que a ditadura militar tentou capitalizar em 1970, gestando uma euforia artificial. O país dos Dorias, Moros e Bolsonaros não tem minimamente o perfil do Brasil que os militares controlavam à base de tortura e repressão. Hoje, a ditadura vem das entranhas da sociedade civil, é uma ditadura orgânica e terminal, uma serpente de várias cabeças, cercada por gremlins que se multiplicam conforme a mediocridade avança. Não é um monstro que cresce nos quartéis, mas um câncer generalizado, que invadiu as esquinas, os bares, as escolas. Não há ideias, não há projetos e os últimos bastiões, como o Judiciário, já não garantem nada e se aparelharam como instrumentos ideológicos de punição implacável a uns poucos.

Neste panorama podre e repugnante, pouco podem fazer os rapazes de Tite, até porque esses moços recebem centenas de milhares de euros todos os anos, vivem no universo paralelo que é hoje o futebol de elite e em matéria de consciência social são basicamente uma lástima.

Vou assistir a Copa da Rússia com gosto, você provavelmente também, como boa parte dos brasileiros, estúpidos ou não. Mas não peçam entusiasmo, por favor.

 

(*) Crônica originalmente publicada no site ChuteiraFC/CartaCapital

 

** José Eduardo Gomes de Carvalho é jornalista, “explorador do mundo”, mentor e amigo daqueles que são para sempre


 

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Memórias do Cárcere I

CORDEIRO DE SÁ *

Nessa onda de apocalipse zumbi dos caminhoneiros (a quem eu apoiei até apoiarem a Ditadura Militar), ando preocupado com a batata da papinha da minha filha e com as batatas que a mãe dela precisa para se transformar em leite. Ponto. No mais, me viro. Se precisar ir a pé, tô de boa. Se precisar fazer dieta, tô precisando. Mas, claro, também aproveito para cuidar da vida dos outros…

Estava no Pão de Açúcar abastecendo o carrinho, pensando na logística do que estraga antes, do que estraga depois, para comprar tudo numa certa ordem de consumo e cuidando para não levar demais, pois o espaço em casa é pequeno. Enquanto pensava, via tudo esvaziar –  aqui na zona Sul a coisa foi rápida, já que o pessoal tem tutano e dispensa grande.

(Nesse ponto, preciso informar que eu moro na zona Sul, ok, mas não nasci em berço de ouro e trabalhei na perifa muito tempo, com o pé no barro mesmo. Por isso, eu sei bem o que é comer milho até o sabugo para não ficar com fome depois.)

Voltando ao Pão de Açúcar, estava eu lá tentando dar uma de herói de filme do Romero, quando me senti numa comédia italiana. Uma senhora bem cheirosa passou por mim, pegou uma peça de uns dois quilos de filé mignon daqueles maturados, selados com grife, duns 70 mangos o quilo, e entregou a carne para o açougueiro mandando moer… e remoer!!!

O rapaz ficou sem graça: “Moça, se eu remoer, a carne vai ficar toda na máquina. É muito molinha!”. Ela fez que tudo bem e explicou: “Sabe, rapaz, é que eu preciso muito fazer um molho. Será que dá?”

Fui para casa triste. Triste com a situação do país, triste com a ignorância das pessoas, com os caminhoneiros dominando o mundo e depois achando que os militares é que são a solução e ainda mais triste em pensar naquele filezaço virando molho à Bolognesa.

Dois dias depois, fui salvar a Dona Maura da fila do busão e acabei num mercado da Zona Oeste. Tinha tudo por lá, até as batatas! É que sem bufunfa, penso que o povo não pode sair descontrolado enchendo as dispensas. Parecia um oásis. Juntei as coisas que me faltavam e saí de lá com uma iguaria sem igual: dois gomos de meio metro de linguiça Cabo-de-reio! Dona Maura já estrilou: “Não me faz isso na frigideira, que vai sujar a casa toda!”. Ela tinha razão, mas eu acalmei sua fúria ao suborná-la com metade da linguiça.

A iguaria está aqui na geladeira, aguardando a fila logística para ser degustada. Será feita inteira, sem moer, claro!

 

* Cordeiro de Sá é ilustrador, professor universitário, marido da fofíssima Ana, pai da
linda Lúcia e geek com muito orgulho


 

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Sobre rolimãs e meganhas

RENATO ANDRADE *

Era preta e branca e depois ganhou esse laranjão vivo. Moderno.

No começo dos anos 1970 era possivelmente um dos símbolos mais aterrorizantes da repressão. UCom os meganhas de rayban e braços à mostra na janela, a chegada da viatura quase sempre impunha o sentimento de medo e obediência. Polícia era polícia. Ponto.

A construção do bólido partia quase do nada, ou melhor dizendo: não existia loja especializada, manual e muito menos um site ou tutorial de apoio. As várias construções em andamento no bairro ainda nascituro fornecia madeiras, tábuas, ripas, vigas, caibros, chapas e mais uma infinidade de materiais a serem “emprestados”.

As rolimãs já exigiam conexões mais específicas. Uma oficina do tio daquele carinha novo na rua. Aquele desmanche quase em outro estado onde uma excursão de belina seria organizada.

Comprar novas só em caso extremo, e engolindo o certificado de incapacidade.

A ajuda do pai, irmão mais velho, amigos, tio, primo ou outro elemento com mais destreza e segurança no manusear do ferramentário, claro, era sempre muito bem vinda.

Quem vê hoje um desses prontos sendo vendidos em loja acha que a empreitada não exigia muitos segredos. Procurem um projetista automobilístico, “assuntem” sobre todas as variantes mecânicas, aerodinâmicas, de design, materiais… e depois tentem transferir todas as informações prum moleque de 10 anos há 45 anos atrás. Era tudo na unha (muitas vezes martelada) e na raça.

Depois de pronto, o teste na rua.

O som das rolimãs deslizando pelo asfalto (impressão ou não existiam tantos buracos?) fazia qualquer ronco de F1 parecer um liquidificador engasgado. Pinturas customizadas não eram muito comuns, mas um colante STP sempre fazia bonito.


O som das rolimãs deslizando pelo asfalto fazia qualquer ronco de F1 parecer um liquidificador engasgado


As corridas. 10, 15, 25, 35… acho que ninguém contabilizava os participantes. Essa mania de precisão numérica deve ter vindo depois. O importante era a vibração na rua e o som…

Aaaaah o som!

Vivo, encorpado, selvagemente metálico e assustador!

Daqueles que quem sentiu – pois era um som pra ser absorvido por todos os poros e sentidos do corpo humano – nunca mais esqueceu.

Mas sempre tinha um morador que se incomodava com essa rascante sinfonia. E aí chegava o camburão lá de cima.

Falei em medo e obediência?

A molecada jogava os carrinhos dentro dos altos matos do entorno, quase florestas. E se divertia vendo os homens da lei adentrando na busca e apreensão. Invariavelmente lotavam o chiqueirinho com o comboio tão arduamente construído. 

Uma vez um dos pilotos sorrateiramente tentou tirar o adesivo grudado em seu carrinho já acomodado na caçamba. Bastou um olhar do oficial.

Sabe que eu acho que no fundo os milicos se divertiam com a coisa toda?

Eram tempos de chumbo – torturas, terrorismo, desaparecimentos, bombas e sequestros.

Ali, naquelas ruas de um bairro sendo colonizado, numa cidade do interior que poderia até ser chamada de pacata na época, uma molecada reproduzindo Interlagos com direito a derrapagens e sentidas escoriações… agora tenho quase certeza… se divertiam sim.

Por trás dos raybans e fardas acontecia de vez em quando um comentário jocoso sobre a operação em andamento. Todos ríamos: PMs e pilotos. Naqueles distantes dias, até o medo, de vez em quando, tinha motivos para brincar.

 

De São José a Olavo – A Trajetória de Um Casal Inesquecível

JORGE RODINI *

Um amor de amoreira. E mangueiras, limoeiros e tantas árvores frutíferas naquele pomar enorme que circundava nosso mundo. Cavalos de vassoura “Aiô Silver”, o cinema paradiso, a praça da Igreja, os bancos marcados com nomes das famílias.
E o quadro do São Jorge? Imponente na sala pequena ao lado da Mor. Pilhas de revistas hoje antigas, com fotos de mulheres belas de cabelos armados, de produtos inovadores à época. Na cozinha, um fogão de lenha impecável. Inesquecíveis momentos da velha senhora que sofria com feridas na perna e jamais desistia.
De tempos em tempos, repouso. Mas aquilo só lhe fazia bem quando os netos a paparicavam. E brincavam e escondiam debaixo da cama, agora já na cidade grande. Cama de ferro, fabricado pelo dono do cartório, seu marido, ex-presidente da Câmara da cidade de onde vinham.
Agora, uma casa menor, que abrigava cada vez mais gente. É uma casa árvore, onde a raiz foi se solidificando e gerando frutos e frutos dos frutos e sempre frutos. O portão branco, fácil dos pequenos pularem, o pinheiro que se empolgava, a netaiada que chegava. Na calada do dia, no silêncio da noite. E o senhor da casa árvore, lendo seus jornais, agora já de lupa, com um terno que lhe conferia austeridade, uma credibilidade patriarcal. Terminava as refeições pela salada, fazia contas enormes de somar começando pelos algarismos da esquerda. Era tradicional com o básico, mas liberal com o importante.
Aquele casal, com quadro emoldurado na sala principal, era só um. Único, imponente, humilde. Doce mulher, homem guerreiro. Um sem o outro, só pelos filhos e pelos netos.
Daquela harmonia, uma história fincou na terra. E parece que todos são pautados pela mesma fome de família.
Em todos os 25 de dezembro desde 1966, o Natal é realizado naquela casa árvore, já sem pinheiro, sem portão baixo, sem os donos legítimos, sem um par de tios, sem um par de primos, mas com alegria ímpar. A admiração é de muitos com aquela festa-bagunça organizada na varanda, na sala, na copa-cozinha, no quintal e na calçada. Sem perder a foto do meio da rua.
Cada vez mais família, cada vez menos rua. E a cada novo membro, a árvore, em forma de concreto, cuida e acolhe. Parece que a porta da casa é aberta a cada nova vida que se inicia, pelos que nunca serão esquecidos.
E, lá pelas três, a mesa está servida! Saúde! TIM TIM!

 

* Jorge Rodini é engenheiro, empresário, pai de quatro filhos e avô de quatro netos,
que gosta  de números, palavras e pessoas


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Poesia crônica

SÔNIA MAGGIOTTO *

Hum, e agora?

Por que essa dificuldade em escrever?

Como assim, escrever é o que mais faz no dia!

Então, melhor… o que acontece com essa dificuldade em publicar o que escrevo?

Opiniões, ideias e sensações. Tudo muito rico, muito intenso e muito volúvel.

Sim, descobri!

Sou mulher, fluo com as energias, com o que acontece dentro e fora de mim.

Percebo que escrevo com a alma e depois, assim que termino de ler, já não sou mais essa.

Já sou outra.

Como assim? Outra?

Outras impressões, outras vontades, outros desejos e outros prazeres.

Simples assim! Muitas em uma, uma em muitas.

Tai, Palavreira! Obrigada por me fazer pensar! Um dia eu escreverei algo publicável!

No melhor estilo mendiga

me componho de retalhos, de trapos.

peças que me aquecem, que me colorem e me fazem sentido.

uma sobre a outra. essa sou eu. uma composição de coisas que não combinam

Às vezes com nós, outras ao vento.

Sou feita de retalhos. De

Seda,

Juta,

Barbante e sonhos.

Todos verdadeiros a seu modo, no seu tempo.

 

* Sonia Magiotto é jornalista, empresária, mestre em yoga e palavreira
encantadoramente modesta


 

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O Anjo da Justiça

FÁBIO LUÍS LUCIANO *

Se houvesse um anjo da justiça. Se ele propusesse trazer justiça ao planeta Terra, ele desembainharia sua espada afiada de JUSTIÇA e atravessaria impiedosamente a alegria e a felicidade de toda a Terra. E a começar pelos banquetes extravagantes dos bilionários, passando de puteiro em puteiro, de desfile de moda a desfile de Carnaval, viraria todas as mesas de todos os botecos do mundo, atravessando goela abaixo com sua espada de justiça a felicidade excêntrica do ser humano até restar apenas luto sobre luto, lágrima sobre lágrima. Degolaria impiedosamente a felicidade de cada ser humano da Terra até que este pudesse compreender a gravidade da injustiça, da fome e da miséria do mundo e deixasse de apontar seus dedos alienados para cima se furtando convenientemente à verdade absoluta dos fatos e da realidade da injustiça impiedosa humana em toda a Terra. Traria fome e miséria para toda a Terra de maneira democrática e contundente até que o último poderoso; presidente ou banqueiro, astro ou ídolo, bonequinho e bonequinha fútil de vaidade chorassem de fome como uma criança miserável africana. Até que este monte de carne e osso desalmado que se auto-denomina humano descobrisse o valor da vida acima do ultraje fútil e escandaloso que é vestido de ego, orgulho, arrogância e diversão. Talvez, como no Êxodo, trouxesse consigo o anjo da morte para levar todos os primogênitos de todos os bilionários e multimilionários do mundo para que estes aprendessem na realidade o que é a dor de perder um filho de fome e sede. Certamente este anjo da justiça iria com grande fúria a acabar com toda a indústria fútil do entretenimento do mundo e de todo tipo de cultura inútil para ensinar ao ser humano o que é a vida além da festa, além do comercial, além do ócio e além da diversão. Assim apresentaria ao mundo o quanto trabalho duro é preciso para manter um planeta vivo e equilibrado e assim traria, enfim, JUSTIÇA a todos os animais. Até que o ser humano apavorado e assombrado reduzisse o valor que dá em sua pulsão e desejo, cobiça e vaidade a pó. E assim, quando o mundo inteiro estivesse de luto ao mesmo tempo, na mesma miséria, na mesma fome, na mesma sede insuportável, na mesma hora, no mesmo dia, haveria o retorno de alguma consciência do valor da vida, da razão da vida e da JUSTIÇA na Terra. E assim sacrificando impiedosamente a alegria, a felicidade e a euforia do ser humano, apresentaria a este desumano o que ele tanto clama: “JUSTIÇA”. E ao colocar enfim sua espada de JUSTIÇA de volta à bainha, ao colocar a balança da JUSTIÇA definitiva na Terra, não sobraria sequer um só inocente.

 

* Fábio Luís Luciano é teólogo e aluno do curso de escrita ficcional
de Lucas Arantes, do Espaço
A Coisa, em Ribeirão Preto


 

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O nascimento de um pai

ALEX MENDES *

Ela chegou durante o frio de uma das cidades mais quentes do Estado de São Paulo.

Na escura madrugada de um dia de semana, minha mulher deu à luz.

Eu, que nunca na vida havia podido ver sangue sem sentir tontura, tremi. Tremi ao ver minha reação contrária.

Com a câmera fotográfica na mão enchi minhas veias de coragem e controlei o ímpeto de sair correndo da sala de cirurgia.

E olha que tudo me levava a isso. O histórico com as agulhas, o cheiro de hospital e, principalmente, o que eu via.

Ali na minha frente, a mulher que eu tinha jurado proteger no altar estava amarrada, com os braços esticados, nua e com uma pessoa prestes a abrir-lhe a barriga com um objeto cortante.

Mas eu estava decidido. Eu estava preocupado em buscar o melhor ângulo.

Eu.

Ali foram os últimos momentos da existência do “eu” que eu conhecia desde que me entendi por gente.

Não foi o barulho dos instrumentos, aquele tec tec com precisão cirúrgica para deixar qualquer um ligado à área de humanas desesperado que me atordoou. Foi outro som. O de um choro engasgado. Era aquele negócio pequenininho, sujo de líquidos e gosmas que eu nem sabia direito o que eram, que eu deveria amar?

Talvez a preocupação com o foco da máquina tenha tirado o meu próprio. Eu não pensava racional ou emocionalmente. Era um robô. Tinha de fotografar e fazer exatamente como eu vira antes nas novelas e nos filmes.

Confesso, mesmo ali, vendo minha herdeira com olhos fechados e boca arreganhada tão perto, ainda não sentia o que a minha esposa carregara durante nove meses. O bebê, até aquele momento, era dela. A mãe. Que alimentava, que dava segurança, que garantia vida a cada vez que respirava.

Já eu, fotografava. Achando que aquilo era o máximo. Que “eu” era o máximo. Um marido que agora tinha uma filha.

‘Eu”. Algo que em poucos minutos iria viver só no passado.

Depois de receber os cumprimentos de dois corajosos parentes que enfrentaram uma noite sem sono, fui para o berçário. Mais preocupado em evitar o sumiço da criança que qualquer outra coisa.

Paula nasceu de oito meses. Foi uma luta diária entre diagnósticos receosos e esperanças religiosas. Graças a Deus, a segunda venceu. Vitória que estava agora à minha frente. Um cisquinho de gente encolhido numa estufa. Um frágil ser com um poder enorme. Algo que eu descobri num abrir de olhos.

Eu – ainda era eu – sentei-me numa cadeira do lado de fora do berçário. Paula na estufa, com dois vidros nos separando. Meu olhar fixo conferia tudo com atenção. Se ela respirava, se parecia comigo, se abriria os olhos.

A última resposta foi avassaladora. Ela parecia ter lido meu pensamento. E ao levantar as pequenas pálpebras, abriu duas bolas negras.

E um coração.

O olhar me atingiu como um raio. Desses de filme de ficção. Transformou-me na hora. Daquele momento em diante tinha sido promovido de duas para três letras.

O “EU” virou “PAI”.

Demoraria vários meses até ouvir a palavra da boquinha dela. Mas aquele primeiro olhar, naquela madrugada fria, me chamou de pai com toda a força do mundo.

Um grito silencioso com o tom de um amor até então desconhecido. Inimaginável pra mim. Um sentimento incondicional, incansável, indissolúvel. Egoísta e ao mesmo tempo coletivo.

Sei que cada um de vocês, leitores, tem uma Paula pra olhar nos olhos. Pra dizer com palavras, gestos, responsabilidades ou simplesmente com um abraço: Sim, sou seu pai.

Temos datas de aniversários diferentes, mas posso afirmar que nasci no mesmo dia que você.

Um pai. E uma filha.

Que possamos crescer juntos por muito tempo aproveitando cada fase.

A pequenina que dormia no meu antebraço.

A gigante que andava sobre minha barriga.

A loirinha que cruzava os braços e fazia biquinho quando queria algo que não podia.

A princesa que segurava a minha mão no cinema.

A adolescente que até hoje faz questão de beijar meu rosto num boa noite impossível de ser contaminado pela rotina.

Paula e Alex. Um pai e uma filha.

Olho no olho. Coração com coração.

Amor.

E nada mais que se compare a isso.

 

* Alex Mendes é jornalista, cinéfilo, escritor talentoso, amigo querido e pai amoroso da Paula


 

 

 

Toda semana, às quartas, o blog traz a crônica de um(a) ‘palavreiro(a)’ convidado(a). O convite é extensivo a todos que gostam de palavrear a vida em forma de crônicas.

VEM PALAVREAR COM A GENTE!’

O céu da vó e do vô

LÍVIA KOMAR BARUSCO *

Ela deitava com o irmão na grama bem aparada dos fundos, no quintal da velha casa da vó e do vô. Ficavam de costas lado a lado, porém com uma distância necessária para que pudessem abrir os braços e se tocarem as mãos. Lá, no interior do interior, banhados pelos verões ensolarados, longe da poluição da cidade grande, imaginavam desenhos onde apenas tinham nuvens brancas.

Vinte e cinco anos se passaram quando eles repetiram a mesma cena, em outro palco. No terraço do apartamento dele, do outro lado do mundo, com outro céu nublado e nuvens não tão bonitas, eles se deitaram no chão frio e usaram aquela tela cinza lá do alto para passarem um filme de suas vidas. Em outro canto, o que já foi o preferido deles, havia morrido a última peça daquelas memórias. A vó ia embora ficar ao lado do vô, que morrera quando ainda eram adolescentes.

Entre um vinho e outro, ativavam suas memórias. Na infância, até parecia que eles existiam para estar ali, em todas as férias desde que se conheciam por gente. Na casa da vó e vô eles eram livres, sem escola, sem piano, ballet ou natação. Na casa da vó e do vô eram ajudantes de jardinagem, boleiros ocasionais, marceneiros de passagem, colhedores de frutas direto do pé. Tomavam café com bolo de fubá feito na hora e ouviam moda de viola contando os besouros da parede do alpendre. Andavam de carrinho feito pelo vô e comiam o bolo de chuva da vó, mesmo que as tardes fossem ensolaradas.

A menina desconhecia saias naquele período mágico e gostava de balançar na rede e sentia-se voando enquanto o mundo a sua volta dançava feito bailarina em torno dela. O menino gostava de subir no telhado da casa e certa vez, escondido, fumou uma bituca da palha do vô até ficar tonto. Ele não aprendeu a lição, pegou gosto e fuma da hora que acorda até o último bocejo do dia.

Estavam tão distantes da vó, mas com histórias tão vivas que preferiram sentir a dor desse momento juntos, em um mundo só deles – que resolveram mais uma vez compartilhar depois de adultos. O vô e a vó foram embora de vez e levaram com eles aquele refúgio fascinante de outrora. Nunca mais as frutas teriam gosto de pé de goiaba da casa do vô. Nunca nenhum sabor de café coado conseguiria penetrar tão fundo a alma como o que o da vó. Nunca mais sentiriam aquele cheiro de amaciante da camisola da vó e nem da mão áspera do vô ao se darem boa noite. Nunca mais. E ao constatarem tantas perdas, dormiram em lágrimas de saudade ali mesmo, no relento.

De manhã, em uma das cidades mais chuvosas do planeta, fez-se sol com nuvens brancas. O homem e a mulher despertaram do porre de vinho e de dor e, deitados, deram as mãos novamente. Calados e emocionados, agradeceram juntos a oportunidade de um dia ter vivido tudo aquilo que nunca mais ousariam querer viver sem a vó e sem o vô.

 

* Lívia Komar Barusco é jornalista especialista em marketing, assessora
de imprensa e mãe do Matteo


 

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