Categoria: CINÉLIDE

‘O Grande Hotel Budapeste’: adorável e original

Ralph Fiennes e Tony Revolori em ‘O Grande Hotel Budapeste’

The Grand Budapest Hotel‘, 2014

INDICAÇÕES: Melhor filme, Diretor (Wes Anderson), Roteiro original, Fotografia, Edição, Design de Produção, Figurino, Maquiagem & Cabelo, Trilha Sonora

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Se há um traço entre os indicados nas categorias principais do Oscar 2015 deve ser o carisma dos protagonistas. Cada um dos oito indicados a Melhor Filme este ano é sobre um personagem glorificado, mesmo quando travestido de fracassado, como o ator decadente de Michael Keaton em “Birdman”, ou quando trata-se de um anti-herói, como o atirador incensado em “Sniper Americano”.

O Messier Gustave de Ralph Fiennes, em “O Grande Hotel Budapeste”, entra na categoria dos “adoráveis”, junto com o Mason de “Boyhood”.

Gustave gerencia o hotel que dá nome ao filme e ao qual dedica sua vida e princípios, norteados por um cavalheirismo que já não se via igual naquele período da Segunda Guerra Mundial, em que a trama é ambientada. Ela começa quando Gustave contrata um jovem de ascendência indiana como mensageiro. As circunstâncias que se seguem – a morte de uma de suas amantes, o roubo de um quadro e sua prisão – fazem com que eles se tornem grandes amigos e cúmplices.

Em todas as situações o que se destaca é a classe, a gentileza e a pompa das quais Gustave não abre mão seja qual for a dificuldade da vez. É delicioso assistir, embalado pela narrativa e linguagem visual muito peculiares do diretor Wes Anderson, como Gustave permanece fiel a seus princípios em um mundo em franca transformação.

Por este e por outras pérolas de sua filmografia (vide “Os Excêtricos Tenenbauns” e “A Vida Marinha de Steve Zissou”), sempre pautada pela originalidade e pelo humor negro, Anderson merece o Oscar de Melhor Direção, bem como Ralph Fiennes o de Melhor Ator

Sou suspeitíssima para falar de Fiennes, por quem sou encantada desde que o descobri em uma versão pouquíssimo conhecida de “O Morro dos Ventos Uivantes” (1992), com Juliette Binoche – considero seu olhar um dos mais expressivos do cinema atual.

Seu imenso talento, que ele já emprestou tanto ao romântico protagonista de “O Paciente Inglês” quanto ao nojento antagonista de “A Lista de Schindler”, pelos quais foi indicado anteriormente ao prêmio, é amplamente explorado na pele de Messier Gustave.

Quem sabe desta vez a academia não reconhece seu grande mérito? Estou na torcida.

‘Boyhood’ é autêntico como a vida

Boyhood‘, 2014

INDICAÇÕES: Melhor Filme, Diretor (Richard Linklater), Ator Coadjuvante (Ethan Hawke), Atriz Coadjuvante (Patricia Arquette), Roteiro original, Edição

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Já gostava do diretor Richard Linklater pela trilogia “Antes do amanhecer”, “… do Por-do-Sol”, “… da Meia Noite” e o amei um pouco após assistir a “Boyhood”. Não queria que o filme acabasse nunca. É daqueles que entram dentro de você pra levá-lo junto numa “viagem”.

E foi uma ótima viagem por 12 anos da família disfuncional do jovem Mason Jr. (Ellan Coltrane), que começa o filme com 8 anos e termina aos 20, interpretado pelo mesmo ator. Isso mesmo, a vida dele ao lado da irmã, Samantha (Loreley Linklater), e dos pais divorciados, Olivia (Patricia Arquette) e Mason (Ethan Hawke), são filmadas em tempo real. Assistimos aos atores envelhecerem e às crianças crescerem e se transformarem em jovens adultos de verdade.

Quem analisar “Boyhood” de uma forma rasa pode dizer que o diretor se preocupou mais com este recurso do que em contar uma história com começo, meio, fim, como uma lição bem explicadinha. Mas você não poderia estar mais enganado.

Linklater sabia exatamente o que estava fazendo. E a opção de levar 12 anos para fazer este filme teve tudo a ver com o início e o fim abertos dessa história. É a vida como ela é que o diretor  mostra e que, na maior parte do tempo, não faz sentido enquanto a vivemos.

Mason parece chegar a esta conclusão naquela parte da adolescência em que se começa a questionar e comparar as escolhas dos pais. Intuimos isso baseados na observação que o jovem faz das transformações por que passaram seus pais ao longo dos anos, já que Linklater não entrega tudo “mastigadinho” para chegarmos a reflexões óbvias – como 90% dos filmes de hoje fazem pra tornar a experiência mais fácil.

A certa altura, numa conversa entre pai e filho, Mason-pai faz um comentário irônico sobre ter se tornado, 20 anos depois, o pai de família convencional que a primeira mulher cobrava. “De que adiantou tudo então?”, questiona o jovem, que cresceu passando seus fins-de-semana com um pai músico, descolado em seu Pontiac e eleitor de Obama e o viu virar vendedor engravatado, marido de uma crente e genro de republicanos. “Não sei. Eu estou apenas vivendo”, responde o pai.

E Linklater soube aproveitar com muita tenacidade a escolha de se reunir com a equipe por alguns dias de cada ano para filmar. Pôde inserir com mais autenticidade na história o panorama e os modismos de cada época influenciando diretamente o comportamento dos personagens e suas relações.

Aos 10 anos, Samantha irrita o irmão fazendo covers de Britney Spears após a mãe ler para eles um dos primeiros livros da saga Harry Potter – anos depois, eles aparecem num lançamento cheio de pompa do sexto livro da saga. No Ensino Médio, a irmã pinta o cabelo de vermelho e ouve Lady Gaga. Poucos anos depois, quando a própria namorada não consegue desgrudar do seu smartphone hiperconectado, Mason decide abandonar o Facebook para “viver a vida real”.

Introspectivo, o personagem do garoto carrega todos os pontos de interrogação da história, mas ele não encontra respostas para todos (e nem sempre as perguntas estão às claras).

O filme termina sem lições ou moral da história, mas a sensação que deixa está longe de ser de vazio. Novamente somos convidados a apenas adivinhar o que significa aquele último meio sorriso de Mason – novo amor nascendo? respostas para seus questionamentos sobre o futuro e o tempo? Ou apenas enlevo ante a bela paisagem?

O que importa mesmo é que a história contada, por mais ficcional e aberta, soa verdadeira e autêntica… como a vida.

Adeus, ‘captain, my captain’

Os bastidores do cinema são mesmo caixas de surpresas, às vezes de muito mal gosto. Está sendo surreal para mim conceber que a pessoa por trás daquela presença solar que era Robin Williams na tela foi capaz de renunciar à vida de forma tão amarga. Realidade demais propiciada por alguém que me fez sonhar, rir e chorar em tantas produções – era um dos atores que me faziam assistir a um filme só por ele estar no elenco.

Interessante que ele tenha carregado o rótulo de ator cômico, porque foi em dramas que mais me emocionou. Ainda morro de chorar sempre que assisto a “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), o filme que primeiro me apresentou ao seu carisma. Tenho certeza de que outro ator não daria ao “professor Keating” a mesma personalidade carinhosa que me fez querê-lo como pai, professor, amigo, confidente.

No belíssimo ‘Amor Além da Vida’

Em “Amor Além da Vida” (1998) acreditei piamente em sua dor como pai de dois filhos mortos em um acidente de carro. Quis abraçar e cuidar do mendigo lírico que ele interpretou em “O Pescador de Ilusões” (1991), obra–prima do ex-Monty Python Terry Gilliam. E que outro ator daria tanta legitimidade a um robô que vai se humanizando ao longo de dois séculos como o Andrew de “O Homem Bicentenário” (1999), inspirado em obra de Isaac Asimov?

Em ‘O Pescador de Ilusões’

Nos últimos tempos li aqui e ali rumores da fase negra da vida de Williams – problemas financeiros precipitando sua volta à TV, vícios, depressão -, mas nada me preparou para seu ato final.

Mesmo assim, despeço-me agradecida por sua vida, que nos divertiu tanto.

Adeus, “captain, my captain!”.

 

‘The Normal Heart’ é de arrasar!

Minha frequência em escrever neste blog é diretamente proporcional à vezes que tenho a sorte de topar com um filme que consegue chacoalhar o meu mundo (qual o sentido em compartilhar impressões sobre histórias apenas bonitas, medianas ou mesmo ruins, não é??). Hoje foi um daqueles dias de sorte!

Nem sei por qual elogio começo a comentar sobre “The Normal Heart”, produção para a TV (nos EUA as televisões também produzem longas para exibição exclusiva em suas grades) que sequer ganhou um título em português nos sites de cinema brasileiros – sinal de que deve levar um tempinho para chegar por aqui.

Mas valerá a pena esperar. Isto é… se você não é uma daquelas pessoas que jura não ter “nada contra” homossexualismo, mas prefere não ver nem ter contato. Do contrário, entregue-se a esta maravilhosa história real, que gira em torno da luta do escritor e ativista gay Ned Weeks para chamar a atenção das autoridades governamentais e de saúde sobre o aparecimento da epidemia de Aids, na Nova York da década de 1980. A partir da observação de casos em seu círculo de amizades e alertado por uma médica que atende a comunidade gay, ele criou a primeira ONG para dar suporte, informação e apoio a infectados – em 1981, a doença sequer era pesquisada e ainda chamada de câncer gay, porque foi entre esta comunidade que ela primeiro se alastrou.

Esta simples sinopse não faz justiça à densidade das reflexões suscitadas pelos dramas que se desenrolam em torno de Ned – e em dado momento em sua própria vida pessoal – paralelamente à sua luta política. A dificuldade dele em sentir-se reconhecido como uma pessoa normal pelo próprio irmão, as divergências entre os próprios gays sobre a abordagem do problema junto às autoridades e, pior de tudo, a dor de verem namorados, amantes, maridos e amigos morrerem de forma deprimente, sem assistência, cercados de preconceito e discriminação… tudo é abordado ao mesmo tempo e sem superficialidade.

Preparem o coração para momentos tristes assim, mas também para vibrar com as interpretações estupendas e corajosas de todos os atores. Julia Roberts, sem maquiagem, no papel de uma médica paraplégica que luta para tratar os doentes e conseguir verba para estudar o vírus, está de arrasar. Nem tenho palavras para descrever a entrega com que Mark Ruffalo interpreta seu corajoso e ao mesmo tempo dócil Ned Weeks.

E o elenco de apoio, formado tanto por atores que são gays assumidos na vida real – caso de Matt Boomer (“Crimes do Colarinho Branco”), Jonathan Groff (“Glee”), Jim Parsons (“The Big Bang Theory”) e outros – como por notórios heterossexuais também surpreende. Quem diria que bonitinhos como Taylor Kitsch (“John Carter – Entre Dois Mundos”) seriam capazes de atuações tão densas?

E preciso falar, Matt Boomer merece que eu me redima por não tê-lo achado, até então, capaz de transcender seu rosto inacreditavelmente bonito. Ele me arrancou lágrimas em mais de uma cena na pele de Felix, namorado de Ned, que também contrai a doença. É a grande história de amor dentro de um filme muito maior que isso.

Palmas para o diretor Ryan Murphy (de “Glee”), que também deu seus pitacos no roteiro de Larry Kramer, adaptado de uma peça teatral.

Arrasou!

Por falar em racismo, ‘Soul Man’

Em meio a polêmicas sobre racismo, outro filme com a temática que costuma me voltar à memória é “Soul Man” (1986), de Steve Miner – diretor mais conhecido pela direção de produtos para a TV. Seu argumento citava a lei de cotas para negros nas universidades norte-americanos, o que, naquela época, ainda era algo impensável no Brasil.

Acredito que o marketing equivocado feito para o filme no Brasil tenha sido responsável por sua baixa popularidade – talvez acreditando que fisgaria mais bilheteria, a distribuidora deu-lhe o título brasileiro de “Uma Escola Muito Louca” e divulgou cartazes e trailer que davam a entender que se tratava de mais uma comédia adolescente. Deve ter perdido, com isso, muito público que aprecia filmes com temáticas sociais.

E aqui a questão das cotas e o racismo contra negros são apresentados de forma leve, mas não menos séria. “Soul Man” (prefiro usar o título original) traz um jovem C. Thomas Howell  (de “Vidas sem Rumo” e “Amanhecer Violento”) na pele de Mark, um riquinho mimado cujos pais resolvem, sem aviso prévio, ensinar-lhe o valor do esforço pessoal decidindo que ele terá de se virar sozinho para pagar a faculdade. Ele decide, então, disfarçar-se de negro para ganhar direito a uma bolsa de estudos da cota racial. Não fazia a mínima ideia dos preconceitos e discriminação que viria a sofrer.

Uma cena em especial ficou marcada  em minha memória e me ajudou a definir a postura que eu mesma assumiria diante das dificuldades: Mark está preso por ter sido confundido com um criminoso escolhe fazer o único telefonema a que tem direito para um professor – também negro – com o qual se identifica (James Earl Jones, que emprestou sua voz a Darth Vader de “Star Warz”). Para a surpresa de Mark – e de todos os espectadores -, o professor chega trazendo o livro que ele precisa estudar para a próxima prova da faculdade e, em vez de  uma mão na cabeça, um chacoalhão. Ao perceber que o jovem está aceitando a posição de vítima, avisa que para o resto da vida ele terá que se esforçar mais que os outros para obter os mesmos resultados e. “Se for preso, estude na cela, porque a prova vai acontecer com ou sem você e, se não a fizer, ninguém vai ligar. Só você vai perder. Injustiças assim vão acontecer muitas vezes ao longo de sua vida [como negro]. É sua escolha deixá-la interromper sua trajetória”, foi mais ou menos a mensagem passada, não exatamente com estas palavras.

Uma lição que nunca esqueci. Levei pra vida.

‘Uma Viagem Extraordinária’

Deve ser maravilhoso viver na cabeça do francês Jean-Pierre Jeunet. Quem já assistiu a “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “MicMas – Um Plano complicado” eUma Viagem Extraordinária” sabe do que estou falando, pois são filmes que nos fazem sair leves e felizes do cinema.

O primeiro tornou-se um cult e projetou o nome do diretor e co-roteirista – em todos os títulos citados, em parceria com Guillaume Laurant – na história recente do cinema, graças à fotografia vibrante, personagens fora dos padrões, situações completamente improváveis e uma bem vinda fé na humanidade.

Os ingredientes eram inovadores para a época do primeiro filme (2001), mas a repetição deles prova que Jeunet investe na mesma receita – muito particular, é verdade, mas ainda uma receita – há pelo menos três filmes (exceção a “Eterno Amor, de 2004).

Uma Viagem Extraordinária” prova que ela ainda funciona. Impossível não se enternecer com o relato que o menino T. S. Spivet faz do cotidiano de sua família muito peculiar, vivendo em um rancho de Montana.

Um dos três filhos do improvável casal formado por um caubói silencioso e uma cientista verborrágica (Helena Bonham Carter), T. S. é superdotado de inteligência. Seu irmão gêmeo ficou com a parte da força bruta na divisão dos dotes, e a irmã mais velha faz o gênero “típica-adolescente-fútil-rebelde”.

A viagem do título começa por causa de um projeto de máquina de movimento perpétuo de T.S., que acaba escolhido para receber o prêmio Baird, do Museu Smithsonian, em Washington. O garoto não tencionava ir recebê-lo, mas uma tragédia familiar o faz decidir embarcar clandestino em um trem para atravessar o país. No caminho, ele enfrenta a solidão, recebe ajuda de estranhos e, ao chegar a seu destino, aprende mais de uma lição.

Assim como “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “Uma Viagem Extraordinária” é visualmente bonito e prazeroso de assistir  – “uma gracinha”. Mas, graças à receita já conhecida, suspeito que não terá a mesma longevidade de Amélie Poulain na memória do público.

‘Megamente’ é sensacional!

Quarta à noite, futebol na TV… “programa de índio” pra cinéfilo.

Zapeando pelo limitado menu do meu pacote econômico de canais pagos, estaciono mal conformada no único em que está passando um longa que eu nunca assisti, só para ter um fundo sonoro pra minha navegação na internet.

E não é que uns diálogos muito loucos e originais roubam minha atenção da tela do computador?

Mais correto dizer que o longa de animação “Megamente” me hipnotizou pelos 80 minutos seguintes. Sua história e diálogos impagáveis brincam com muita inteligência com os clichês de filmes de super-heróis.

A subversão já começa pelo argumento, que escolhe um vilão como o protagonista.

Megamente tem este nome por causa do tamanho de sua cabeça, que abriga um cérebro privilegiado, mas que ele usa para tentar conquistar, ao longo de diversas disputas contra o super-herói Metro Man, a cidade de Metro City. “Tentar” porque todos sabemos que o mocinho sempre ganha, certo?

Mas este não é um filme de super-herói comum, por isso, um dia Megamente consegue vencer Metro Man e finalmente domina a cidade.

Após algum tempo, porém, nosso vilão entra em depressão ao perceber que, sem um oponente “do bem” para ocupá-lo, sua vida perdeu o sentido. É quando elabora um modo de criar um outro super-herói com quem possa brigar, mas é claro que nada sai como planejado.

A sinopse nem de longe dá uma ideia do quão divertido resulta o desenrolar dessa história. Os diálogos são pérolas de ironia e auto-tiração-de-sarro do gênero.

Para se ter uma ideia, o “pai espacial” que Megamente cria para orientar o novo super-herói tem a voz e – o topete – de Marlon Brando na pele do pai de Superman, no filme homônimo.

Ah… e a trilha sonora tem sucessos de grandes nomes do rock contemporâneo, como AC/DC, Ozzy Osbourne, Guns’N Roses e outras feras.

Mais cool impossível!

Porque os homens choram

johnny depp chora 1!

Já aviso que esta matéria é imprópria para maiores de 18 anos com alto nível de testosterona, porque o assunto é choro de homens.

Em respeito aos “machões” que continuarem a leitura a partir daqui, vou tentar não me derramar muito ao comentar o trabalho de atores que me emocionaram profundamente em cenas nas quais tiveram de interpretar um bom choro… sem perder a masculinidade. E não me refiro a chorinhos de olhos mareados não, mas àqueles de soluços abundantes.

Começo lembrando uma cena lindíssima de Johnny Deep no filme que dá nome a este post, “Por que choram os homens?“. Na última noite em que seu personagem passa com a amada (Christina Ricci), prestes a embarcar em definitivo para outro continente, ele segura a pose de fortão até ela adormecer em seus braços. Na madrugada, chora copiosamente agarrado a ela. Ai, ai…

Em “Fonte da Vida“, Hugh Jackman (ele mesmo, o Volverine de “X-Men”) surpreende quando seu personagem chora a morte da mulher (Rachel Weisz) a soluços soltos e altos, a câmera em close fechado sobre seu rosto. Foi a primeira vez que notei que, no meio daquela aura de galã com “cara de mau”, esconde-se um bom ator.

Passei a prestar atenção no escocês James McAvoy em “Desejo e Reparação“, particularmente na cena em que ele se despede de Keyra Knightley em um restaurante de Londres, antes de partir para a guerra. Sua atuação é econômica, mas intensa ao simular que tenta segurar o choro, mas fracassa. As lágrimas escorrem abundantes sobre sua expressão de sofrimento.

Ralph fiennes criesO inglês Ralph Fiennes também mostra todo o seu potencial dramático na explosão de dor de seu personagem diante da perda da amada em “O Paciente Inglês“.

Já Mel Gibson está se tornando um especialista no expediente. Chorou sobre a foto da ex-mulher morta, no primeiro “Máquina Mortífera“; quando o filho asmático entrou em choque, em “Sinais“; sobre o túmulo da mulher, em “Coração Valente“; sobre o cadáver de dois filhos, em “O Patriota“; quando achou que o filho sequestrado havia sido morto, em “O Preço de um Resgate“; e, se não me engano, numa cena de “Teoria da Conspiração“. Irregular, sua dramaticidade vai do caricato ao convincente, dependendo do filme.

Al Pacino choraAgora vou falar da cena que considero a top entre as tops no quesito. Desafio qualquer coração de pedra a assistir incólume a Al Pacino dar aquele grito sem voz nos minutos finais de “O Poderoso Chefão 3“, para, em seguida, explodir em um uivo de dor! As lágrimas não foram necessárias…

BRAVO!!!

‘Ela’: hiperconexão (virtual) X desconexão (sentimental)

Ela

“Ela” (Her), filme de Spike Jonze que concorreu ao Oscar 2014, é triste.

E não porque fala de solidão, mas por mostrar uma solidão que já praticamos, um futuro imaginado que já está entre nós, geração hiperconectada que rende-se à preguiça de preferir contatos virtuais a pessoais (é mais fácil!).

Em uma das primeiras cenas, a personagem de Joaquin Phoenix está na rua falando sozinho, ou melhor, com seu sistema operacional, que tem inteligência artificial, voz e nome de mulher – Samantha. Nem todos os espectadores percebem que nesta mesma cena todos em torno dele também “falam sozinhos”, ou seja, com seus dispositivos eletrônicos.

A cena se repete em outros momentos do filme, mas então já percebemos como todos naquele futuro “imaginado” estão alienados, indiferentes aos outros seres humanos em torno, concentrados nas máquinas que lhes ouvem e respondem em qualquer situação.

Theodore (Phoenix) está se divorciando. Interagir com “alguém” criado para responder a todas as suas questões, práticas e sentimentais, parece a solução ideal para tirá-lo do luto pelo final da relação com sua companheira desde a infância.

A ironia é que nenhum amigo acha estranho quando ele admite que está em um relacionamento com um sistema operacional. Uma de suas melhores amigas, também recém-divorciada, confessa que, como ele, passou a se relacionar com o próprio sistema operacional. Daí que levar o computador como companhia a um piquenique de casais torna-se natural. O fato de Samantha tratar-se de uma “pessoa sem corpo” é irrelevante.

Mas onde há inteligência, mesmo que artificial, nada fica igual para sempre. Samantha começa a ir além de seu mundo com Theodore, a buscar satisfação para suas curiosidades e novos questionamentos – eles brotam onde há consciência – na interação com outros sistemas e usuários.

Theodore terá que lidar com uma questão nova para aquela relação, mas tão antiga quanto a história de todas as relações e para a qual a geração hiperconectada às máquinas – e cada vez mais desconectada dos sentimentos – ainda não encontrou: como não ficar só em um mundo no qual todos estão sempre procurando respostas para seus vazios fora de si mesmos?

O filme não tem resposta para isso.

Como disse, triste, triste, triste…

Senhoras e senhores, JARED LETO!

Por ter ouvido muitos conhecidos dizerem que não conheciam Jared Leto, resolvi fazer um breve resumo de sua carreira, que acompanho há anos, desde que sua beleza me chamou a atenção na série adolescente “My So Called Life“ (cancelada por baixa audiência logo após a primeira temporada, em 1995). Foi o primeiro trabalho na TV tanto dele quanto de Claire Danes (também sigo a carreira dela desde então), que hoje faz o maior sucesso em “Homeland”.

A série foi um fracasso (não por falta de qualidade em minha opinião), mas ainda bem que Jared e Claire deram continuidade às suas carreiras – ele arriscando-se mais em papéis difíceis ou pouco carismáticos, como se quisesse provar que tem mais do que beleza (difícil esquecer isso… rs).

Aliás, desviar de papéis fáceis e comerciais é uma das razões de o ator ser pouco conhecido do grande público. Exemplos disso são seus personagens em filmes como o depressivo “Réquiem para um Sonho” ou o hermético “Além da Linha Vermelha“. Também foi o vilão de “O Quarto do Pânico“, o amante do imperador em “Alexandre” e o Babyface de “Clube da Luta” (ele tentando parecer feio com cabelos e sobrancelhas descoloridos… rs).

A segunda razão é que Jared conjuga sua carreira de ator com a de vocalista de uma banda de rock de sucesso, a Thirty Second To Mars, que se apresentou no Brasil no último Lollapalloza – foi eleito campeão de simpatia entre a imprensa brasileira.

Fico feliz que finalmente suas opções nada fáceis de personagens estejam sendo reconhecidas com seu Oscar por “Clube de Compras Dallas”.

Foi merecido!