Categoria: Íntimo & Pessoal

Testemunhais

A razão da música estar em mim

Meu pai, Elizio Pereira (Zague para os boleiros), partiu para outro plano no dia 8 de fevereiro de 2023. Foi ao som de uma playlist de bossas-novas de Tom Jobim e parceiros, que montei especialmente, a conselho de uma amiga – “toca pra ele músicas calmas, que ele goste de ouvir”. E meio que inconscientemente escolhi só coisas que eu escutava na primeira infância, muito por influência dele, que sempre mantinha em casa discos de MPB e fitas cassete de sambas – num tempo em que só existiam sambas canções e raiz.

Naquela quarta-feira eu já tinha entendido que o papí (como nós, as três filhas, o chamávamos) havia desistido. Não era do feitio dele, que voltou de algumas emergências médicas inacreditáveis com otimismo inabalável, mas o fato é que não aceitava mais comida nem remédios há mais de 24 horas. Só água ainda pedia, com um fiapinho quase inaudível de voz, que eu precisava encostar meu ouvido pra escutar. “Não aguento mais”, justificava quando eu insistia em oferecer meus caldos. Super compreensível, já que ele vinha se desmanchando em náuseas e enjoos antes mesmo de tentar engolir qualquer comida. Mesmo assim, liguei pro seu nefrologista pra perguntar “o que é que eu faço?” e calhou da orientação dele bater com a do médico da família que passou vê-lo naquele mesmo dia: “respeita a decisão do paciente”.

Sem mais o trabalho de esvaziar sua bolsa de ileostomia e com medo dele não ter força pra apertar a campainha que pus a seu lado pra me chamar (estava tão fraco e  confuso!), decidi passar a tarde no quarto com ele. Coloquei minha caixinha de som sem fio sobre a cômoda, criei a playlist na Apple Music e pus pra tocar. Primeiro me sentei aos pés dele, único lugar vago na cama toda entrincheirada com travesseiros pra ele não cair. Então o assisti movendo com esforço o próprio corpo pelo colchão, no sentido anti-horário até deitar a cabeça no meu colo. 

De vez em quando eu habilitava a função karaokê do player pra eu mesma cantar alguma faixa, e ele arregalava os olhos numa expressão de susto, que até agora fico me perguntando se foi mesmo de surpresa ou incômodo (rs… tendo a me entusiasmar quando o tom da música facilita pra minha voz aguda).

Minha mão sobre a de meu pai: idênticas.

Devemos ter ficado cerca de 1h assim, até eu me lembrar de levantar pra pendurar no varal a roupa que havia posto lavar na máquina. Quase não fiz força pra colocar seus 55 kg de pele e ossos (distribuídos por 1,85m de altura!!!) de volta à posição certa na cama. Quando voltei, vendo que ele dormia, abaixei um pouquinho o volume da música, peguei meu livro e passei a ler sentada na cadeira de rodas que ficava ao lado da cama. Com uma mão segurava o livro e com a outra a dele (já disse que minha mão é uma cópia fiel e menor da dele?).

E assim ficamos não sei por quanto tempo mais – talvez 1h ou 2h – eu tirando os olhos do livro de vez em quando para checá-lo. Até que, de uma hora pra outra (ou assim me pareceu), a mão dele gelou na minha. Daí pra frente me lembro de pouca coisa. Sei que liguei pra minha irmã e pro Samu, mas só recordo do que falei na ligação pro Ma, meu marido, já num choro descontrolado: “Papí descansou. Vem pra casa, por favor”.

Não chorei mais depois disso, mas desde então não consigo parar de escutar “Bossas Tom Jobim & Cia” (como nomeei a playlist). Ao longo da última semana, até a turbinei, chegando a ouvir várias versões das minhas preferidas, com diferentes intérpretes, pra escolher a melhor de cada. Mas teve música que entrou duas vezes porque não consegui decidir entre um(a) e outro(a) intérprete e/ou arranjo mais lindo.

O Marcio começou a ficar preocupado com minhas audições repetitivas. “Deixa ele ir embora, Silvia”, disse. E expliquei que deixei, sim. Até confessei que tinha rezado pra ele descansar, e que, misturado com susto, piedade e mais uma tantada de sentimentos que eu não sei descrever agora porque nunca senti antes, também teve alívio no meu choro.

Hoje, completada uma semana do seu  desencarne, ainda ouço a playlist, mas juro que sem tristeza alguma. Em parte porque – vamos combinar! – não tem baixo astral que resista às bossas do Tom. E em parte (e esta é difícil de explicar, mas vou tentar) porque essas músicas me transportam de volta a um tempo de pureza do qual nem lembranças visuais eu tenho – só uma memória de sentimentos.

Papí não foi um pai perfeito (algum é?) e nós três guardávamos alguns ressentimentos dele, por ter sido um pai muito autoritário. Mas hoje, ouvindo as músicas, eu procuro, procuro e não encontro mais nenhuma mágoa em mim.  Só lembro que ele também foi um pai que amou demais (por isso nos sufocava) e foi o responsável por eu ter crescido em um lar musical. Mesmo arranhando mal o violão (nunca fez aulas), sempre nos convocava a cantar em roda canções brasileiras das antigas com ele tocando – nos chamava de seu “Trio Esperança”.  

Na casa em que crescemos, quando a vitrolinha verde não estava ligada, era o rádio/toca-fitas que ele instalou no armário da cozinha, com caixas de som distribuídas pelos quatro cômodos da casa estilo “vagão” (era fio que não acabava mais). E porque também tínhamos uma relação física com a música, decretávamos trégua de qualquer desavença pra dançar um bolero ou sambinha com ele (também era “pé-de-valsa”), fosse sobre o tapete da sala, em um churrasco de quintal ou em um baile do clube.

Tem uma música que o Bono (U2) compôs pro pai dele – à época também com câncer terminal – que diz em um trecho: “You’re the reason I singYou’re the reason why the opera is in me” (Você é a razão d’eu cantar / Você é a razão da ópera estar em mim). Desde a primeira vez em que ouvi ‘Sometimes You Can’t Make It On Your Own’ eu soube que esses versos serviam pra ser ditos por mim ao meu pai. Mas nunca disse – um monte de histórico ruim me bloqueando…

Talvez ouvir a playlist seja meu jeito de finalmente admitir pro universo (e pra ele) que o papí é a razão da música fazer parte de mim. E – caramba! – nem consigo descrever o quanto sou grata por isso!

Ouvir música me salvou nos momentos mais obscuros da minha vida, me consolou nos mais tristes e me deu prazer nos mais felizes. Não tem ocasiões em que me sinta melhor do que em um show de um ídolo musical ou em um barzinho com música ao vivo bem feitinha. Graças à música encontrei o Ma, um completo desconhecido levado à minha casa pra tocar violão que nunca mais sairia da minha vida (amém!).

Espero que meu pai tenha ouvido toda a playlist (fico em dúvida se ainda estava consciente, pois não ouvi mais sua voz depois que a pus tocar) e que tenha gostado. Também espero que, onde quer que esteja, receba o afago da minha imensa gratidão.

Vai com Deus, papí. Amo sim (já achei que não)! Fica em paz.

Mãe de pais

Nunca fui mãe.
Não cheguei sequer a engravidar, portanto não conheço a sensação de receber um teste positivo, de ter meu corpo se transformando pra formar um novo ser e confesso que não invejo conhecer a famosa “mãe de todas as dores” (com o perdão do trocadilho) de parir uma criança de parto normal sem anestesia – Deus sabe que conheço muitas dores físicas incapacitantes e não sei se aguentaria uma pior!

No entanto, sempre tive o maior respeito por pais e mães. Respeito tanto que, apesar de sempre ter desejado filhos, não tive coragem de tentar engravidar quando finalmente pude escolher – antes faltava um pai, depois estabilidade financeira e depois tempo, mas o que realmente me impediu foi a covardia. É que cresci filha caçula em uma família de poucos recursos, com um pai que passava a semana fora para atender clientes em outras regiões num tempo em que telefones fixos eram luxo e celulares uma ficção. Então assisti muito de perto aos sacrifícios e dificuldades enfrentados por minha mãe para conciliar a criação das três filhas com o dinheirinho extra que precisava fazer olhando filhos de vizinhos e prestando serviços de manicure. Depois testemunhei a loucura que foi para minhas irmãs mais velhas conciliarem trabalho e maternidade.

Faltou coragem da minha parte, mas Deus achou um jeito de me fazer experimentar um simulacro de maternidade: mexeu seus pauzinhos para garantir que eu, entre as três irmãs, tivesse como cuidar mais de perto de meus pais quando minha mãe perdeu toda a mobilidade. Foi quando finalmente entendi a utilidade de ter sofrido um acidente grave de moto que me deixou quase um ano sem andar entre 2016 e 17 – recebi todo o amor e suporte de minha família na ocasião, mas mesmo assim senti na pele como é difícil depender fisicamente de outro ser humano.

Depender do outro implica muito além de vulnerabilidade física, mas também (e muito mais) vulnerabilidade emocional e psicológica; implica muita vergonha por se ter sempre companhia ao fazer necessidades fisiológicas; culpas – como, por exemplo, de sua bexiga funcionar tão bem que o cuidador fica com o sono picotado por ter de posicionar a comadre pra você mais de uma vez na madrugada; enfim, de precisar que outra pessoa refaça toda a sua rotina para conseguir estar presente na hora de lhe dar café da manhã, almoço, jantar e banho.

Qualquer semelhança com os tão alardeados clichês da maternidade  (“nunca mais dormi depois de virar mãe”) não é mera coincidência. A era de longevidade em que vivemos tem nos imposto uma parentalidade intensa de nossos pais, já que o progresso da ciência anda mais rápido do que a competência de nossos governantes em garantir suporte institucional para uma qualidade de vida na maturidade. Nossa família ainda teve sorte, pois pude abrir mão (não sem prejuízos) de trabalhos para cuidar de meus pais, mas e os filhos que não podem parar de trabalhar?

Mesmo os que podem nem sempre estão preparados física e psicologicamente para isso. E é preciso estar, pois pode apostar que há muita diferença entre trocar fraldas e dar banhos em um bebê e fazê-los em um adulto de 80 quilos, de quem você já dependeu e a quem deveu obediência a vida toda. Isso sem falar na pesada carga mental que é administrar agendas de consultas médicas, exames, remédios, contas de farmácia que só aumentam (aposentadoria que não) e ter sempre que ligar antes pra saber como é a acessibilidade daquele laboratório ou consultório onde é preciso levar sua mãe cadeirante – PASMEM! Alguns não têm sequer estacionamento pra desembarcar deficiente e outros nem elevador como alternativa à escada (aprendi da pior forma!), etc, etc, etc…

O que também aprendi com as experiências de cuidada e cuidadora é que, quando se está no papel de quem cuida, nada pode ser sobre você! Não interessa se você tem todo o seu tempo disponível ou se precisa “equilibrar pratos” para conciliar os cuidados a seu idoso com os de sua família nuclear, seu trabalho ou o que for: não pode deixá-los sentir que atrapalham um pouquinho que seja seus planos, pois já estão se sentindo um estorvo e incapazes o suficiente sem você reclamar. E se você acha que é difícil estar no papel de cuidador, não tem noção do quanto mais difícil é estar na posição do cuidado, posso garantir!

Ter estado neste lugar me fez entender que não se trata de teimosia, por exemplo, quando um idoso leva tombo teimando em tentar fazer coisas que seu corpo não suporta mais: é vergonha de depender! E os choros fáceis não são manha ou chantagem emocional, mas vulnerabilidade psicológica decorrente de não se reconhecer em seu próprio corpo. As irritações e os maus humores não são rabugices, mas pura manifestação de impotência. Sem falar do medo de que nada nunca mais volte a ser como antes – e no caso deles o mais provável é que não volte mesmo.

Confesso que precisei do acidente para aprender esta empatia, pois meu déficit de atenção sempre me fez muito voltada para dentro de mim, portanto desligada do outro (o que me rendeu uma vida inteira de problemas de sociabilidade, mas essa é outra história). Posso dizer que, atualmente, sou uma “egoísta em reconstrução”, porque ainda não me tornei a melhor “mãe” do mundo para meus pais. Uma mãe virginiana, hiper organizada e responsável, sim, mas que ainda perde a paciência às vezes (me desculpo cada vez mais rápido!). Ainda preciso me lembrar de não reclamar perto deles e, ao menos por enquanto, não sei como disfarçar o cansaço e as dores físicas. 

Mas outra coisa que também acabei de aprender na prática (e aí vem outro clichezão) é que “nenhuma mãe é perfeita”… e está tudo bem! O importante é ter pra nós mesmas a consciência de que demos o nosso melhor. Tenho sido “a melhor mãe que posso” pra meus pais e peço todos os dias a Deus: por favor, Senhor, que esteja sendo suficiente!

 

P. S. Toda a minha gratidão ao meu amado marido, Márcio, que foi o melhor cuidador que uma acidentada poderia ter e nunca deixou transparecer o quão difícil era!

Déjà vu (ou ‘Quem sabe isso quer dizer amor… 2 – A Missão’)

Oitavo domingo de quarentena.

Acordo dentro da memória brumosa e morna do “Encontro de porta” com nossos mais novos melhores amigos. Grata pela noite, por olhar do lado e checar o sono fungador do Ma, sentir nossos filhos-gatos esparramados entre nossos pés e pernas, lembrar que é dia de escola Aprendizes do Evangelho e – mais gratificante que tudo – não ter sido acordada pelas dores musculares do meu bruxismo (já disse que a vida sem dor é maravilhosa?).

Obrigo-me a fazer os exercícios passados pelo fisioterapeuta e a comer ao menos uma banana antes de engolir os comprimidos da pressão e de colágeno (já disse como odeio comer e ter que fazer “dever de casa” logo ao acordar?). Minha natureza pede um despertar lento, feito de descanso dos músculos fatigados do bruxismo, pés pra cima na poltrona da sala e cérebro despertando devagar através do olhos, que caçam no celular as primeiras mensagens e manchetes jornalísticas do dia. Mas a virginiana em mim não sabe ignorar um “dever”, sob pena de ficar arrastando uma bola de ferro cheia de culpa pelo resto do dia. Por isso dou meu suspiro de resignação e inicio as primeiras séries na cama mesmo. “Primeiro  o dever, depois o prazer”, disse Daniel Boone em um dos episódios do seriado que assisti na infância – nunca mais esqueci o dito e o levei pra vida (quer mais virginianismo que isso?).

Sento ao computador pra preparar nova postagem no blog, checo mensagens, respondo… e imerjo em meu hiperfoco, que ignora tudo o que é mundo fora da minha cabeça. Registro só com uma parte do cérebro o Ma ligar a TV pra assistir no Youtube as últimas lives de músicos preferidos – outra região dentro da minha mente registrando, satisfeita, a emoção dele ouvindo e vendo seus ídolos musicarem seu domingo. E novamente fico grata.

Termino o trabalho no computador, vou pra cozinha fazer a receita nova de risoto prometida e, de repente, ouço um dedilhar de violão que não soava há  tempos em casa se aproximando pelo corredor. Me invade um déjà vu de todas as vezes em que o Ma sacou do violão pra cantar comigo e pra mim, eu preparando nossa comida, uma tulipa de cerveja dele esquentando em cima de algum móvel e uma taça de vinho minha se esvaziando mais rápido que o recomendado, em meio a legumes e carnes que corto desajeitadamente, com minha coordenação motora de jegue. E, de novo, tudo no mundo parece estar exatamente no lugar que deveria estar.

Pra entender o valor desse déjà vu é preciso saber que o Ma não pegava o violão dentro de casa pra se acompanhar cantando há…  ? … nem sei quanto tempo! Foi parando mais ou menos quando começaram seus lutos – pela morte do pai em 2016, do irmão em 2017, da mãe em 2018 -, cada um jogando dentro dele umas saudades doídas de ver. Ele não falava muito disso – eu respeitava – mas tenho pra mim que rolava um constrangimento inconsciente por ele ainda estar neste mundo, apto a continuar desfrutando de um dos grandes prazeres de sua vida, quando os seres que mais amava já não estavam.

A felicidade fez eu gravar o momento em vídeo, com o celular amoitado no balcão e comigo parecendo uma “Amélia arrependida”, com faixa segurando o cabelo oleoso de cozinheira mal ajambrada. Compartilhei depois nos grupos dos amigos de cantoria e dos vizinhos de porta, brincando que “se eu soubesse que bastava variar o cardápio do almoço pro Ma voltar a fazer serenata na minha cozinha, eu teria começado antes da quarentena”, e rezando pra ele não ralhar comigo.

Não ralhou. Até respondeu com bom humor às brincadeiras surgidas nos grupos. Quis ouvir a gravação mesmo com aquele som de caixa de fósforo do celular, sem saber que dentro do meu peito o coração dava pinotes de felicidade, feito os gatos quando entram no “MODO GREMLIN” aqui em casa.

Meu risoto ficou MARA! O Ma garantiu minha caipirinha e, com a promessa de cuidar da louça suja depois de sua sesta domingo (eu cozinho – ele lava!), foi deitar sem saber que pra mim aquele domingo de quarentena transformou-se no melhor dos últimos quatro anos.

Vou ter que evocar o Lô [Borges] de novo: “’Quem sabe isso quer dizer amor’ 2 – A Missão (de inventar de vez em quando um novo cardápio pra ver se o Ma volta a fazer serenata de cozinha pra mim!)”.

 

LEIA TAMBÉM: Quem sabe isso quer dizer amor (Relatos de uma quarentena)  / Encontro de porta

Diários do SUS: dia 3

Em seu terceiro dia de espera por internação, na sala de Observação da Santa Casa de Ribeirão Preto, mamãe mantém a candura de sempre. A expressão é de cansaço, e o humor, deprimido, por mais que ela tente disfarçar. Mas ela nunca reclama de nada e se interessa genuinamente por todos os outros pacientes à sua volta.

Quando cheguei para mais uma jornada de 12 horas como sua acompanhante, havia mais uma maca com paciente na mesma baia que a dela – aliás, como em todas as outras, que deveriam abrigar apenas uma cama.

Aprendi nesses dias que vagas estão entre as inúmeras carências do serviço público de saúde ribeirão-pretano. Falta de tudo. De itens básicos, como roupas de cama e banho para todos, até os mais macro – aparelhamento tecnológico, insumos, mão-de-obra com e sem qualificação, etc. Eles existem, mas não o suficiente

Em meus 28 anos como jornalista, fiz e editei muitas reportagens sobre as agruras por que passam os usuários do SUS, mas nada como senti-las na pele. 

Não cabem nos espaços e tempos limitados dos jornais impressos e televisivos todos os detalhes denotativos do abandono que essas carências nos fazem sentir. Por exemplo, no primeiro dia de mamãe por aqui, levou horas para eu conseguir o primeiro lençol para cobri-la; mais 1h para ela herdar um cobertor de um leito liberado e dois dias para lhe sobrar um travesseiro.

Fraldas geriátricas, toalha, medicamentos usuais e sabonete só trazendo de casa, e melhor não esperar por um enfermeiro que ajude a trocar fralda, dar banho ou levar seu paciente ao banheiro. Pode levar horas ou nem acontecer.

Melhor também ficar atenta à chegada dos médicos para, se for caso, educadamente lembrá-lo de ver seu paciente, pois são tantos, em tão pouco espaço, que às vezes algum “passa batido “. O mesmo para o pessoal da Enfermagem, que precisa auscultar e fazer medições regulares dos pacientes. Às vezes, simplesmente não dá tempo de fazê-lo em todos dentro de um mesmo turno.

Mais importante de tudo é lembrar que nada é culpa de qualquer profissional dali. Todos fazem o que podem. De verdade. Por isso tento não gritar com alguém quando uma dessas tantas carências eleva minha revolta a níveis  insuportáveis. Até porque a vida e o “conforto” de mamãe estão nas mãos desses profissionais.

Em última análise, somos todos – acompanhantes, pacientes, médicos e enfermeiros – humanos, portanto suscetíveis a reações emocionais como qualquer outro. Mas ninguém quer um profissional de saúde de má vontade ou extremamente estressado cuidando de sua própria mãe.

Minha mãe tem fome!

Minha mãe tem fome. Não só de comida.

São 9h da manhã de um domingo de abril. Eu a acompanho na sala de observação da Santa Casa de Ribeirão Preto desde as 8h, quando rendi minha irmã, que passou a madrugada toda com ela. Antes, das 18h às 23h de sábado, foi minha outra irmã quem a acompanhou na longa espera por atendimento na UPA, que de Pronto Atendimento – como reza sua sigla – não tem nada.

Mamãe chegou à unidade pouco antes das 19h do sábado sentindo sintomas que acreditamos ser de um novo AVC (já teve três, conhece bem). Na Triagem, foi colocada como atendimento prioritário e mesmo assim só foi chamada 3h30 depois.

Uma jovem e educada médica desconfia de um micro derrame e dá encaminhamento para o hospital, onde uma investigação mais apurada deve ser conduzida. O Serviço de Regulação (que administra as vagas em hospitais) informa que um leito de SUS só vagaria no dia seguinte e mamãe passa a noite numa maca da UPA, com minha irmã insone ao lado.

Quatorze horas depois, mamãe só se queixa de fome. Não pode comer antes de o neurologista do plantão avaliá-la… e ele não chega! Ela está medicada só para as dores – de cabeça e musculares, pelas quatro quedas sofridas – e sequer temos a confirmação de seu diagnóstico.

Em minha cabeça ecoa, como uma sirene, tudo o que já li sobre o custo da espera pelo devido socorro a um paciente de AVC. Desde ontem mamãe não sente o lado esquerdo inteiro de seu corpo. Já tinha a perna e braço direitos “bobos” – sequela de dois AVC anteriores, sofridos dois anos atrás, em um mesmo dia (o primeiro, há dez, foi isquêmico, sem danos permanentes). Ainda tem que lidar com o jejum prolongado – sua última alimentação foi um lanche de pão com frios que levei à UPA 13 horas antes.

Minha mãe tem fome de comida e de cuidados. Meu impulso é gritar, cobrar médico, fazer escândalo, mas a sala cheia de outros pacientes na mesma situação me contém – eu só os incomodaria, e estressaria as equipes de enfermagem, que não têm culpa da falta de estrutura com que trabalham. 

Mamãe tem frio. Só um edredom fino que minha irmã trouxe de casa a cobre. Preciso pedir que um enfermeiro cace um lençol limpo. Mais um cobertor só quando vagar algum leito (1h depois surge um). Uma enfermeira me instrui a comprar fraldas geriátricas para ela, pois o hospital não fornece.

Obtenho permissão para mamãe  ingerir  uma banana que trago na bolsa. Às 10h30, a Copa serve uma sopinha a todos os pacientes, mas não para ela (sem médico, sem comida), que sofre calada sentindo o cheirinho de comida no ar. 

Reflito que a fome é só mais uma privação com a qual ela tem tido que lidar em sua velhice, que pode ficar ainda mais abandonada com a Reforma da Previdência que vem por aí – discute-se diminuir (mais!) o valor do benefício mínimo dos aposentados mais pobres e suspender o adicional para beneficiários que comprovadamente demandam cuidados em tempo integral.

Mamãe e meu pai – que trata um câncer de próstata com metástases – já não conseguem pagar todos os remédios de que precisam com suas aposentadorias. Mesmo separados, têm que viver na mesma casa com minha irmã mais velha para economizar gastos, inclusive com cuidadores – um deve “olhar” o outro enquanto as filhas trabalham e, eventualmente, soar o alarme para uma de nós acudir em caso de ocorrência de saúde.

A cada dia ambos ficam mais debilitados e temo que o momento de necessitarem cuidados mais intensivos tenha chegado antes de termos um plano B. O medo do que virá faz a gastrite acordar em meu estômago e, na falta de calmante melhor, aciono minha principal válvula de escape: a escrita.

10h43 e nada de médico.

12h: minha mãe começa a chorar, me desintegrando toda por dentro. Não é só de fome… “É de abandono, filha”.

Não tem jeito… Vou ter que gritar com alguém… 

A SAGA CONTINUA…

Após questionamentos indignados, seguidos de uma crise de choro, consigo que localizem o neuro do plantão para avaliar minha mãe. Um médico “menino”, de seus 20 e poucos anos, gasta seu sotaque mineiro justificando-se pra mim, que, soluçante, devo formar um quadro assustador. “Não se preocupe comigo, dr. Só avalie minha mãe, por favor!”.

Ele avalia. Diz que pedirá uma tomografia, por isso o jejum precisa continuar. Pede mais uns 40 minutos de paciência.

Só 1h30 depois o enfermeiro vem buscar minha mãe para o exame, mas desiste ao saber que, antes, ela precisa ter a fralda trocada. Promete voltar para fazê-lo e passa outra paciente à frente dela na fila do exame.

Às 16h30 eu desisto de esperar e decido eu mesma trocar a fralda de mamãe, que a esta altura deita sobre lençóis molhados. Um enfermeiro vem ajudar. Questiono a demora em levá-la pra fazer a tomografia e descubro que ela não foi ainda por falta de maca.

17h: a maca aparece. Eu a acompanho à tomografia. Agora dependemos de o médico ter tempo de avaliar o exame para autorizar que ela se alimente, o que só ocorre mais de 1h depois – perto de completar 24h de jejum quase completo.

18h: O resultado sai. É AVC mesmo, diz o médico, que recomenda uma ressonância para investigar o tamanho do dano. Ele explica que só será possível fazê-la com internação, e para internar tem que haver leito vago em algum quarto. Esperamos.

23h: ela pede pra ir ao banheiro. Eu a levo sozinha, colocando-a e tirando-a da cadeira de banho – desisto de esperar por um enfermeiro.

Percebo que vaza sangue de seu equipo (peça do equipamento que injeta soro pela veia) e peço que investiguem. “Está com defeito. Vieram vários com defeito”, diz uma enfermeira, que desliga o soro e promete mandar alguém substituir a peça. Ninguém aparece por TRÊS HORAS, apesar d’eu cobrar a cada 30 minutos.

Mamãe continua com frio, mas não tem mais um cobertor. O vazamento do equipo pintassilga sangue por seus lençol e camisola, que não podem ser trocados. “Não tem”, é a resposta padrão para tudo por aqui.

3h da madrugada de segunda-feira: finalmente um enfermeiro de meia idade – muito gentil por sinal – troca o equipo de mamãe, fazendo o soro voltar a correr por suas veias. Também encontra uma nova camisola e ajuda a ajustar a cama de uma forma que a deixe mais confortável e segura (Deus o abençoe!).

4h: mamãe dorme (graças a Deus e ao Zolpidem), mas continuamos sem quarto, sem internação, sem ressonância e sem previsão de nada até de manhã.

A saga vai continuar…

 

Crônica pra consolar gente grande

Balanço os músculos doridos de biribol abrigada numa rede à beira de uma piscina. Após meses (anos?) de perdas e lutos eu e Márcio nos soltamos, gratos, à rede invisível de novos afetos…

Leio ao celular notícias do mundo lá fora… a tristeza de notícias sobre governantes obtusos, o ódio vexatório destilado sobre a memória de um anjo chorado pelo avô encarcerado…

Mas a esperança também me alcança pelas letras de sambas-enredos cantados na maior folia do mundo.
Cantam Marielles, Dandaras, bodes expiatórios e todo o bom-senso.

Vendeu-se o Brasil num palanque da praça
E ao homem serviu ferro, lodo e mordaça
Vendeu-se o Brasil do sertão até o mangue
E o homem servil verteu lágrimas de sangue”

Penso, afinal, que existe esperança no mundo porque, mais uma vez, os gritos de alerta sobre o absurdo das coisas vêm pela Cultura, que o novo governo quer tanto sufocar.

As histórias “pra ninar gente grande” evocam “a história que a história não conta” nos versos verde-e-rosa de Mangueira, cantados na passarela carioca do samba.

É a manifestação do povo que sustenta a maior festa do mundo… uma porção do povo que convive com exclusões de todos os níveis, imprensada entre fuzis de criminosos (com e sem farda) entregue a poderes paralelos, milícias sem lei…

Há esperança afinal.

E ela também se entranha em mim daqui de nosso oásis rural, com nomes de Márcia, Paula, Adriano, Silvana, Beto, Luís, Tati, Tânia, João Paulo, Mateuses… ecoando amores de mães, pais, irmãos, santos, deuses, Jesus e tudo o mais que rima com afeto.

Penso que enquanto houver voz, amor e amigos sempre haverá esperança.

Questões do luto

Há várias definições para luto no dicionário. Nenhuma descreve ou prepara para os sentimentos pós morte-velório-sepultamento.

Após testemunhar três perdas consecutivas de meu parceiro de vida – seu pai de câncer, em 2016; o irmão, de septicemia decorrente de diabetes, em 2017; e a mãe, também de sepse pós-cirurgia, no apagar das luzes de 2018 – sei alguma coisa sobre isso.

Quando a vida deve retomar seu curso é que a maior tristeza instala-se com todo o seu peso sobre o enlutado. É preciso remexer os pertences, percorrer os lugares e afetos repletos da “presença” de quem se foi. As lembranças e histórias que cada objeto, local ou pessoa evocam… até então ternas, felizes, acolhedoras… tornam-se opressoras. Parecem gritar a nova ausência.

As três perdas de Márcio foram doloridas, mas a do pai foi amortecida pelo luto solidário do irmão e a consciência de que era preciso cuidar da mãe. Logo em seguida, meu acidente de moto meio que o distraiu das tristezas (com ambas as pernas fraturadas, fiquei meses dependente dele para tudo).

A perda do irmão foi, de longe, a mais difícil. Repentina, implacável, trazendo no bojo muita culpa por não termos notado o quão necessitado de atenção estava o Nando. Mas a força espiritual de dona Jovelina, a mãe, também amorteceu as tristezas. E a evidência de que, mais do que nunca, ela demandaria companhia e atenção constantes distraiu-lhe, mais uma vez, das grandes dores. Ele deixava para chorar comigo, não só para poupar a mãe, mas para não envergonhar-se ante sua grande força.

Agora dona Jovelina também se foi. Os primos, tios e amigos acolhem-no com carinho e afeto incondicionais, mas sempre chega a hora de retomar o tal “curso da vida” para todo mundo – aliás, como deve ser.

É quando o enlutado sente-se separado do resto do mundo por uma divisória invisível. Já escrevi sobre isso: por mais que os afetos vivos entendam e já tenham passado pelo mesmo, é solitária a dor do luto em cada um.

Daí que, mesmo juntos, vivemos, eu e Márcio, lutos diferentes. O meu é temperado de impotência e compaixão. O dele pesado de saudades irremediáveis. Não há palavra que minore, abraço que atenue, afeto que substitua a dor de ausências inexoráveis.

Na casa de dona Jô, cada parede reclama sua “presença/ausência”. É dolorido encarar a grande interrogação que cada objeto e cômodo parece nos esfregar na cara. Para mim é difícil manusear os utensílios domésticos impecavelmente limpos e ariados, que ela não deixava ninguém mais orquestrar (para sua noção muito particular de hospitalidade, era impensável deixar uma visita ter qualquer trabalho em sua casa, mesmo tratando-se da companheira de 21 anos do filho).

Pergunto-me como ela aguentava o calor de fornalha da cozinha mal arejada. Aliás, faltam correntes de ar por toda a grande e velha casa, o que parece intensificar a sensação de sufocamento que vai no íntimo de Márcio.

De sua tristeza emergem, agora, muitas e novas perguntas: Por que a partida dos três tão perto? O que explica este plano de Deus? Estariam todos juntos? Estão todos bem?

Atrás de alguma resposta ou consolo, fomos assistir a palestra em um Centro Espírita. Foi melhor para mim do que para ele, pois as questões de seu luto permanecem. Também fazem parte desta fase pós-morte-velório-sepultamento.

Opino que o melhor remédio é “sair para o mundo”, esforçarmo-nos para retomarmos também o curso de nossas vidas, atualmente em um limbo cinza por conta do desemprego de ambos (mais esta!). Ele aquiesce.

Hoje arrumou-se, penteou o escasso cabelo recém-cortado e perfumou-se. Vestiu o sorriso de sempre – para todos os efeitos e aparências, é um exemplo de resignação – e saiu tratar de providências práticas: certidões, inventário, possibilidade de renda…

Amanhã começamos a remexer guarda-roupas e armários.

Que Deus nos ajude!

Que tudo passe…

Avisos de múltiplas mensagens de Boas Festas ao celular e na cabeça o verso insistente do samba de Nelson Cavaquinho:

“tire seu sorriso do caminho
que eu quero passar com a minha dor”. 

Habilito o silêncio no dispositivo, mas a decoração ascética na recepção da UTI deixa os olhos voltarem sempre aos alertas visuais de fotos e vídeos de Natal, mensagens efusivas de Ano Novo, manifestações de alegria, felicidade…

Tem sido assim pelos últimos 14 dias de nossa vigília por minha sogra, em luta contra três infecções neste hospital. O clima natalino reina fora, mas dentro de nós os corações solavancam a cada informe dos médicos… cada minuto parecendo muitos entre uma notícia e outra de pequenas melhoras e grandes pioras.

As emoções em gangorra nos deixam sem saber qual alívio esperar… Vida aprisionada ou descanso? Qual notícia desejar? Qual sofrimento escolher?  

Os votos de Boas Festas continuam nos celulares e as mesmas histórias edificantes de Natal brotam, com novos sujeitos, de TVs e internet. Nas ruas, o burburinho frenético de carros e pessoas denunciam providências para as celebrações que se aproximam.

No começo, revoltava tanta alegria aviltando nossa tristeza. Agora o cansaço pavimenta a aceitação da alegria no outro como confirmação de nossa solidão.

É como se uma divisória transparente e maciça nos separasse de tudo e todos, mesmo havendo amigos a enviar recados carinhosos e parentes a testemunharem solidariedade.

As celebrações continuam e já começamos a sentir vergonha de estarmos tristes. Márcio faz voz boa para o primo preocupado ao telefone. Desliga e funga sob o espasmo de um soluço afogado. 

Escondo-me no silêncio.

Quero que passe… que tudo passe… o Natal, as festas, tudo…

“Tire seu sorriso do caminho
que eu quero passar com a minha dor”

A luta de Jô

Ela perdeu o marido no mesmo ano em que a nora – esta que vos escreve – acidentou-se gravemente, exigindo cuidados integrais de seu caçula.

No ano seguinte, sepultou o filho mais velho um dia antes de seu aniversário de 81 anos.

Neste fim de ano, enquanto todos preparam-se para celebrar as festas de Natal e Ano Novo, é a leonina Jô quem luta, novamente como uma leoa, pela própria vida.

Suportou uma cirurgia delicada de 7 horas para receber a prótese feita sob medida para seu aneurisma da aorta.

Saiu da mesa de operações sem sensibilidade nas pernas, com os rins parados, dores constantes nas costas e enjoando ante qualquer comida. 

Suportou hemodiálises e quedas de pressão sem queixas. 

No dia em que receberia alta, veio o exame que acusou infecções por duas bactérias e a volta para a UTI.

Ainda assim continuou forçando-se a se alimentar e a tentar fazer cara boa para seu caçula, que não faz outra coisa nos últimos dias senão cuidar dela, velar seu sono, animá-la em seu despertar.

Foi ele quem primeiro notou sua respiração acelerada durante uma soneca. Alertados, os enfermeiros auscultaram e confirmaram a taquicardia (140 batimentos por minuto).

Depois vieram a confusão mental, mais quedas de pressão, tentativas dela de livrar-se das agulhas que invadem as veias frágeis para conduzir medicamentos…

Foi amarrada à cama “para seu próprio bem”.

A visão dela frágil, confusa, tentando livrar-se das amarras – lutando sempre! – foi demais para a fé de Márcio. Pela primeira vez, desde o início de suas perdas, questionou Deus. Desafiou-O, entre soluços, a transferir todo aquele sofrimento para si.

E eu, impotente, pedindo que seu sofrimento seja o meu…

É como sabemos que amamos alguém… quando a imagem da dor no outro é tão grande que a queremos nossa… só nossa.

Detectada uma terceira infecção, foi preciso entubá-la.

As chances dela sobreviver são pequenas, mas nos agarramos, novamente, à fé e oramos, oramos, oramos.

Enquanto isso, leoa, a leonina Jô segue lutando.

Paz! (Coexistir é preciso)

“O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro”.

Sempre achei esta frase de Saramago sábia e me pautei por ela em pleitos anteriores. Ultimamente, porém, ante o crescimento de discursos de intolerância e preconceitos, apavorei-me! Passei a me manifestar publicamente achando que era meu dever cidadão.

Que pretensão a minha!

Não mudei a opinião de ninguém e perdi amigos… pessoas que, mesmo tendo pontos de vista diferentes, querem o mesmo que eu (ainda que algumas o desejem só para seu grupo quando deveriam desejar para todos): uma boa vida… melhor, ao menos, que a que temos hoje.

Se eu ou elas estamos errados sobre como conseguir isso é a história que vai dizer, não eu… ou elas. Aliás, se queremos as mesmas coisas nem deveria existir essa distância – nós… eles.

Então, faço um mea culpa: eu deveria estar desde o começo me manifestando a favor da paz e não contra a guerra. Estar falando de boas propostas e não criticando as ruins. E, lembrando que ninguém tem a verdade absoluta sobre o que é bom ou ruim, volto à antiga isenção.

Nossos destinos serão como a maioria decidir, como convém numa democracia (que continuemos vivendo em uma!). E tentemos coexistir!