Einar não mora mais aqui…

Vamos lá tentar encontrar as palavras certas para exprimir a delicadeza e toda a curva emocional de “A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl), de Tom Hooper – mesmo diretor de “Os Miseráveis” e “O Discurso do Rei”.

Esperava uma história linear e documental sobre o primeiro transgênero a realizar uma operação de mudança de sexo na longínqua década de 1920, mas é mais – muito mais – que isso.

É um filme sobre amor – puro, genuíno, incondicional, para além de tudo… de gêneros, estereótipos, sexo.

Esqueça a indicação de Melhor Ator para Eddie Redmayne – ele é quase só um pretexto aqui para a interpretação arrebatadora da sueca Alicia Vikander. Testemunhar as milimétricas nuances de emoções que ela consegue expressar em cada cena me faz considerar aviltante, incompreensível e injusta sua premiação como atriz coadjuvante.

Merecia o Oscar, sim, mas na categoria de atriz principal. O filme é todo dela! (que entrega! que inteligência emocional!).

A história é sobre Einar Weneger, mas o tempo todo é com o sofrimento resignado de Gerda que nos identificamos. É ela quem faz Lili emergir de dentro de Einar, movida por uma intuição primal.

No começo, Einar e Gerda são pintores e se amam. Eles se dão perfeitamente bem na cama e em todo o resto. Um dia, ela pede que ele sobreponha um traje de bailarina sobre as vestes masculinas e pose para que ela possa terminar um quadro encomendado.

Lili começa a emergir.

Numa noite posterior, Gerda descobre sua camisola por baixo das vestes masculinas de Einar. Surge a ideia de um jogo de casal. Gerda traveste Einar. Eles vão juntos a uma festa. Um homem rouba um beijo de Lili/Einar, que “menstrua” pelo nariz – o fluxo nasal passa a ser mensal.

Gerda sente e expressa, através de sua arte – que, ironia!, finalmente desabrocha – a chegada de Lili.

Einar desaparece, mas o amor de Gerda permanece. Transfere-se para Lili. Não sem dor, não sem luto (por Einar)… mas constante.

Muitas dúvidas, muitos médicos e diagnósticos equivocados interpõem-se à busca por entendimento e identidade, mas o amor de Gerda e Einar está lá o tempo todo.

Embalando toda essa barafunda emocional uma fotografia primorosa – cada cena um quadro com toques renascentistas -, mas a história é tão forte que o visual fica em segundo plano.

Tocante!

1 comentário

    • Luciana Cecchini em 1 de agosto de 2016 às 13:32

    Perfeita a sua análise! È exatamente isso, um filme sensível e tocante que tem como tema o amor, em sua mais pura definição. Como assim, não concorreu ao Oscar? Inacreditável! Já estava consternada por não ter ganhado, tinha certeza que tinha concorrido… Vai entender…

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