‘Green Book’, o filme

por Évanes Pache.    

Fiz questão de ir para o cinema virgem de opiniões, com a mente livre de adjetivos. Escolhi o filme sem ler a sinopse e sem saber exatamente do que se tratava. Nas primeiras cenas pensei: 

“Putz, mais um personagem machista, racista, mal educado com aquele olhar obsoleto que, pra mim, não cabe mais no mundo”.

Foi se descortinando um roteiro clássico de Hollywood e eu já estava quase me arrependendo de estar ali.  

Green Book” conta um pouco sobre a vida do pianista Donald Shirley e mostra, com uma história real que ocorre nos anos 1960, que é possível transformar padrões e formas de atuar no mundo.

Ao longo do filme, e da jornada do herói vivida pelo personagem Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), experimentei momentos de tensão, de compaixão, de empatia, que me levaram à gargalhadas e também, às lágrimas. O diretor e roteirista americano, Peter Farrely, compôs climas emocionais com pontos de virada que me levaram a uma entrega à história.

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“Green Book” cativa e ativa a memória sobre alguns modos de desumanização ainda atuais. Traz a caricatura das ruas quando propõe um personagem principal que despreza qualquer delicadeza, que conhece apenas o cenário onde as relações são espaços para exercitar um universo interno rude, estúpido e deselegante. 

Falo isso porque acho importante assumir todo o meu preconceito e intolerância sobre os preconceituosos e intolerantes. Me exercito muito para não deixar isso me tomar, mas a verdade é que ainda me toma.

Gosto de pensar que podemos ser tragados pela gentileza com doçura e firmeza ao mesmo tempo. No filme, essa forma pessoal de pensar e desejar a vida se realiza. Tudo de um jeito sutil e envolvente. As emoções do espectador são conduzidas de um jeito fino e doce. 

“Green Book” fala sobre criar vínculos, sobre parceria, de real interesse e sobre se importar de verdade com o outro. Fala de uma amizade que se constrói de forma autêntica e com uma afetividade desinteressada. Isso tudo de maneira delicada e divertida, sem cair em clichês panfletários. 

O filme não tem parafernálias técnicas. O que me encantou foi a maneira gentil de mostrar um recorte dolorido da vida de Donald Shirley e a beleza de ser humano.

 

Évanes Pache é jornalista, especialista em Transformação de Conflitos e Estudos de Paz e palavreira sensível

1 comentário

    • Márcia em 14 de fevereiro de 2019 às 22:49

    Fiquei com vontade de assistir!

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