Junhos!

Nunca pensei muito sobre o porquê das festas juninas e quermesses me despertarem bons e mágicos sentimentos todo inverno, mas ultimamente tenho rememorado lembranças de deliciosos junhos na avenida de terra na qual cresci, em Ribeirão Preto.

As festas do mês mobilizavam-nos em preparativos para grandes fogueiras à beira do ribeirão. Nós, crianças, saíamos a buscar pelos matos qualquer resto de madeira enjeitada para montar a estrutura gigante, que ultrapassa a altura de qualquer adulto das redondezas.

As crianças banhavam-se correndo após a tarde de brincadeiras para não perderem nenhum detalhe do ritual de acender a fogueira. Começava com a distribuição de pequenos pedaços de jornal pela grande pilha, que eram acesos com fósforos. Mas era preciso também bisnagar álcool pela madeira para incentivar o fogo rápido do papel a espalhar-se.

Era emocionante para nós testemunhar o fogo erguer-se altíssimo, iluminando a noite à beira do rio… a ausência de postes de luz multiplicando o número de estrelas à vista no céu.

Tão lindo!

As mães conformavam-se com o assalto às suas embalagens de Bombril, já que a sensação da noite era improvisar espetáculos de luzes com esponjas de aço em chamas. Acendíamos a pontinha delas na fogueira e as rodávamos com movimentos circulares dos braços, formando espirais de fogo lindíssimas os nossos olhos de crianças.

Os vizinhos dispunham suas cadeiras de cozinha a uma distância segura da fogueira para acompanhar com vigilante aprovação a farra dos mais jovens… e deitavam conversa sobre suas vidas para levar.

Algum adulto sempre chegava com bules enormes de alumínio – daqueles que hoje só se vê no Museu do Café – para servir quentão em copos americanos. Leves, eram liberados até mesmo para crianças… o gosto do gengibre descrevendo um caminho de fogo por nossas gargantas. Até hoje nutro um amor infantil pela raiz, que descobri recentemente ser contraindicada a hipertensos (desgosto dos desgostos!).

As fogueiras aqueciam o frio genuíno daqueles junhos pré-El Niños, mas o fogo consumia rapidamente o “gigante”. No dia seguinte era apenas um amontoado de cinzas espalhadas pelo vento livre da beira do rio, que liberava-nos de qualquer trabalho de limpeza.

Não precisávamos de quadrilhas, trilha sonora sertaneja, correio-elegante, camisas xadrezes ou jeans puídos para legitimar nossas modestas e pouco planejadas festas juninas. Éramos “caipiras” legítimos da cidade em nossa “avenida rural” cercada de asfalto em seus limites.