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Natural solidão de um pensamento

ADEMIR ESTEVES *

Estive repensando, amigos. Por mais que me tente crer numa mudança, cá por dentro a ansiedade e a busca por uma solução viável, continua. A mata morre. Morre a decência. A competência. Morre o bicho!

O preço pago, já foi pago, pago, até ser pago pelo último.

Senhor da vida, não dá mais pra suportar tanta esculhambação. É ainda pior, porque faço parte da escória… e, ironicamente, a minha súplica invalida outras.

Que caiam os ministérios e seus processos.

Que inventemos um dia feliz para os demais incoerentes. Que o meu cinismo não chegue a ponto de sorrir para os que me feriram, sem retorno aos meus recursos perdidos.

A mata queima.

Meu nojo impera! Regurgito pensando neles. (Impera o asco em mim). Regurgitam ao pensarem no eu que sou pensado: luta de coisa alguma. Guerra sem princípios.

Antes de ir, peço farto e doente, que não me permitam entregar um Óscar a quem não interpretou as mensagens do roteirista.

Mãos vazias. Sem prêmios. Sem fósforos. Sem poder.

Por que, Creonte, fui nascer tão idiota?

Por que valorizei amigos e não as vantagens?

Por que, Medeia, amei tanto ou mais que você e não me dei o direito de matar meus filhos como vingança?

E me responde a desconfiança: porque matando ontem hoje estaria esquecido.

Só um minuto dura a vida.

A ideia para ser posta é longa, imensa, mas preciso interromper

pois ainda não paguei as contas do mês retrasado.

Que possa continuar a lamuria quem está com nome limpo e a consciência tranquila.

E, antes que passe em branco: ontem consegui alimentar um menino e uma mulher no calçadão… e eles, creiam, sorriram.

 

* Ademir Esteves
Professor e diretor de teatro na TPC, diretor do
Núcleo de Teatro Queratina e palavreiro assíduo


 

 

 

Toda semana o blog traz a crônica de um(a) ‘palavreiro'(a) convidado(a). O convite é extensivo a todos que gostam de palavrear a vida em forma de crônicas.

“VEM PALAVREAR COM A GENTE!”