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E a palavra nos brindou com mais uma valiosa colaboradora

A palavra tem força.

É capaz de criar e destruir amizades – bem como a falta dela de provocar desencontros, graves omissões e até perdas.

No meu caso, o maior prêmio foi tornar acessível a uma jovem com problemas de sociabilidade e compulsão por leitura a entrada em uma profissão totalmente dependente de interação, expressão textual e trabalho em grupo (já estou nela há 32 anos).

Um período particular de maior isolamento social (passei um ano me recuperando de um acidente que me quebrou as duas pernas e me deixou sem andar por mais de seis meses) levou-me à criação deste blog para receber minhas #crônicasdeacidentada. Através dele fiz novas e valiosas amizades com o mesmo amor por elas… as palavras.

Hoje o Palavreira é uma das seções de meu site profissional, que também tem subseções destinadas a textos de “palavreiros” convidados. O que me leva ao motivo desta postagem:

A profissão me levou a conhecer a advogada e comunicadora social Luciana Gerbovic, que entrevistei para algumas matérias sobre projetos de leitura para o blog do Grupo Mulheres do Brasil, que eu ajudava a querida Susana Souza a alimentar. A quarentena me fez perder o trabalho, mas me brindou com crônicas impagáveis da Luciana na rede social Facebook. Primeiro a convidei para uma participação bissexta na seção de convidados intitulada “Palavreiros“. Mas não teve jeito: foram tantas outras postagens deliciosas em sua timeline que tive de lhe convidar a contribuir semanalmente.

É sua seção “A Loka dos Livros” que apresento hoje, com publicação de sua primeira crônica inédita para o blog: “Shhhhhhhh”.

E a partir desta semana, toda sexta-feira vai ter uma nova crônica de autoria da Luciana Gerbovic no menu TEXTOS DE CONVIDADOS. Eu não perderia se fosse vocês.

Bem-vinda, Lu! E que a palavra siga nos unindo e construindo pontes.

Boas leituras a todos.

Grata por sua vida, seo Saulo

Numa reunião de pauta da Revide Ancienne, quando vi seu nome entre os primeiros de uma lista de entrevistáveis, já avisei: “o Saulo Gomes eu faço!”. Qualquer jornalista a par da história da profissão no Brasil conhece sua trajetória como repórter investigativo e destemido – era daqueles que não se calava nem sob ameaças de morte.

Liguei para ele cheia de dedos, usando um tratamento super respeitoso, que ele foi logo quebrando com sua alegria contagiante. E um acolhimento que só sabe ter quem considera a humanidade toda sua família (deve ser uma pré-condição para ser ótimo jornalista).

Seo Saulo me recebeu em seu apartamento com toda a gentileza do mundo. Contou histórias junto com dona Edna – parceira de vida tão simbiótica que às vezes, durante a entrevista, eu ficava em dúvida sobre quem começara ou terminara de contar qual lembrança sobre a vida dele.

Quando saiu a edição da revista com seu perfil, peguei um exemplar a mais. Minha intenção era levar um, pessoalmente, para o casal, mas deixei para fazê-lo depois das últimas entregas de matérias do próximo número. Não deu tempo.

Não é a primeira vez – e acho que nem será a última – que a vida me lembra o que acontece quando a gente teima em colocar deveres mundanos na frente de pessoas. Um dia eu ainda aprendo.

Grata por sua brilhante vida, sr. Saulo!

Todo meu carinho, dona Edna!

Revide 1000

Uma foca entre feras

 

Quando fui admitida na Revide, em janeiro de 1992, havia acabado de dançar no baile de formatura de minha turma de Jornalismo na Unaerp. Já trabalhava há dois anos em um jornal semanal que se confundia com o laboratório de redação da faculdade. Mesmo assim posso dizer que, quando bati à porta do Murilo Pinheiro pedindo uma chance na revista, ainda era, em tudo – emoção, inexperiência, medos -, uma autêntica “foca” (gíria da área para jornalista inexperiente).

O que moveu minha coragem foi a vontade de exercitar aquele modelo de reportagens analíticas que, à época, a Veja fazia com muita qualidade (e sem sensacionalismo!) e a Isabel Farias queria imprimir na Revide.

Se tivesse, então, a mínima ideia das “feras” com as quais trabalharia naquela redação, jamais teria me atrevido (ainda bem que me atrevi!). Trabalhei ao lado da Matilde Leone, que já admirava muito! Do saudoso José Rubens da Silva, veterano que me acolheu como a uma colega de seu nível. Da Janice Kiss, que andava às voltas com suas primeiras aulas de alemão. E com o querido Júlio Sian, amizade que levei pra vida toda. Pouco tempo depois de admitida, eu ganharia como colegas de redação professoras que tinha no mais alto grau de admiração: Carmen Cagno e Adriana Canova – como tremi de medo! E como aprendi com elas!

Não pensem que esta foca teve vida fácil entre essas feras. A inexperiência me faria ouvir muitas críticas, ter textos retalhados e chorar de frustração. Se soubesse, na época, o quanto aquilo tudo estava me ensinando, teria sofrido menos. Mas cada vez mais fui conquistando minha assinatura no alto de uma reportagem – era o prêmio estipulado para os textos pouco modificados pelo exigente editor.

Folheando meus arquivos, consigo me orgulhar de algumas reportagens que assinei. Entre elas “Laços de brutalidade”, na qual delegados e promotores me municiaram com dados suficientes para concluir que, já naquela época, a violência contra a mulher ocorria, majoritariamente, dentro da família e era muito subnotificada em Ribeirão. Gosto de pensar que este quadro melhorou, mas sabemos que ainda está longe do ideal.

Com o tempo, aprendi a me reconciliar com o fato de que, às vezes, apenas denunciar problemas numa reportagem pouco ajuda. Em outras, é um bom começo. O que importa é se, ao colocar cada ponto final, sentimos que cumprimos o objetivo que nos fez seguir esta profissão – no meu caso, contribuir para abrir os olhos do maior número possível de pessoas.

Saí da Revide para adquirir experiência em outros veículos e acabei indo para outras cidades. A revista seguiu crescendo, virou uma grande editora e, quando voltei, após 15 anos fora, já era uma marca superlativa em Ribeirão Preto.

Orgulha-me ter feito parte dessa história. Mais ainda ter sido convidada a contribuir com reportagens para a Revide Ancienne, novo e ousado projeto da marca voltado para o público 60+.

Mais do que orgulhosa, porém, sou muito grata, viu, Revide!

Que venham outras 1.000!